Carta aos companheiros do CRUSP
Nós somos o sangue da ocupação da reitoria da USP. Nós precisamos de moradia estudantil e de assistência estudantil. Nós estudamos nas escolas públicas e fizemos os piores cursinhos e, mesmo assim, mesmo com toda essa adversidade lutando contra nós: vencemos !!! Apesar de tudo e apesar de todos entramos na USP. No primeiro momento alegria total, cara pintada, cabelo raspado, banho de lama. O doce gosto da vitória e da felicidade. Mas no primeiro dia de aula...quanta decepção. Salas de aula lotadas e sem ventilação. Faltam professores e deram-lhe uma vaga no cortiço do Aluízio Azevedo. (Inclusive você chega a pensar que a Fuvest inseriu esse livro na lista de leituras obrigatória para preparar psicologicamente os alunos que irão morar no CRUSP ou em algum alojamento. Assim o choque não é tão grande.) Pior ainda, você sente que foi enganado pelo manual da Fuvest, que fizeram propaganda enganosa.
Isso acontece com você que veio da escola pública, mas não acontece com os fedelhos burgueses que entraram na Medicina, no Largo São Francisco, na FEA, etc. Lá não faltam professores. Os prédios e as carteiras são novos: recém reformados. E o apto onde irão morar fica próximo da paulista. Lembro-me de um colega que contava a história de um filho de fazendeiro que veio estudar no Largo São Francisco. Antes de seu pai comprar um luxuoso apto para ele nos Jardins, o herdeiro do grupo dominante ficou hospedado, por alguns meses, no MAKSOUD PLAZA.
Agora eu pergunto a você, companheiro do CRUSP: "Conseguiu ver a opressão, a exclusão, as desigualdades ?" As unidades onde funcionam os cursos da burguesia não estão sucateadas, não chove lá dentro, estão novas em folha. As unidades onde estão os cursos frequentados pela maioria dos estudantes pobres que vieram de escola pública estão caindo aos pedaços. As desigualdades e as exclusões que existem fora dos portões da USP são reproduzidas aqui dentro. A FFLCH é a periferia da USP.
Esse movimento de ocupação da reitoria da USP significa muito para nós moradores do CRUSP, pois une os problemas que enfrentamos nas unidades de ensino com os problemas da moradia e assistência estudantil. Os fedelhos burgueses que estudam na FFLCH e que vem de carro para a USP não vêem o mundo dessa forma, pois não vivem o que vivemos, não passaram pelo que passamos e não irão pedir o que precisamos. Esses pensam que moradia e assistência estudantil não é necessário e que pode ser relativizado.
Lembro de um político burguês que achava um absurdo determinadas políticas sociais que visavam dar aos pobres três alimentações por dia. Ele dizia que só uma refeição diária já era suficiente. E que três refeições era luxo.
O problema das revoluções são os contra-revolucionários infiltrados. Gente que está do nosso lado, mas que se dispõe a nos vender por 30 moedas. Para os fedelhos burgueses a única coisa que interessa são as reformas na FFLCH. Isso satisfaz as suas necessidades. Contudo, as nossas necessidades vão além, muito além, disso.
Se os fedelhos burgueses tomarem conta do movimento de ocupação vão nos vender na primeira oportunidade que tiverem. E se isso acontecer as retaliações da reitoria recairão sobre nós, uma vez que nós temos uma ligação direta com a Universidade, temos um endereço certo e é fácil nos prejudicar, inclusive porque somos a parte mais fraca. Basta a reitora apontar o dedo para o CRUSP e dizer: corta as bolsas, corta a luz, corta a água, etc. Eles, os fedelhos burgueses, só vem para a USP em dia de aula. Não há como prejudicá-los. Em outras palavras, nós demos a nossa cara para bater e corremos o risco de sermos traídos pelo fedelhos. Isso não pode acontecer.
Portanto, companheiros cruspianos, o sangue desse movimento de ocupação da reitoria somos nós. Se todos os moradores do CRUSP saírem do movimento ele murcha como uma bexiga que perde o ar. Além disso, nós estamos correndo o maior risco, dada a nossa ligação de dependência com a universidade, nós somos os oprimidos e os excluídos aqui dentro da USP. Logo, nós temos que tomar conta do movimento. E se os fedelhos burgueses nos venderem, se negociarem coisas que não são boas para nós, eles saem da reitoria, mas nós não. E se tirarem todos, nós tomamos conta novamente. Se derem um contra-golpe no movimento, nós damos um golpe novamente.
Enfim, quem precisa de universidade pública, gratuita e de qualidade é a mesma classe dos estudantes que precisam de assistência estudantil, dos estudantes que estudam nos cursos de periferias da USP. Para os burgueses a universidade pública, gratuita e de qualidade significa economia, pois não precisão pagar por um curso desses nas universidades particulares ou no exterior; para nós, estudantes das escolas públicas, significa a única forma de termos uma educação relevante e significativa, que faça diferença.
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