Nós estudantes formamos uma coletividade: a classe estudantil. Uma classe oprimida, excluída e caída. Uma classe que começa lá na creche e termina com o doutorado ou pós-doutorado. Diria alguns que não termina nunca, pois somos eternos estudantes ao longo da vida.

Somos uma classe, mas não temos direitos de classe. Vejam os médicos, os advogados, os engenheiros e os trabalhadores. Todos eles tem as suas respectivas classes, seus estatutos, seus direitos. E nós estudantes, o que temos ? Nada. Não temos nada.

Não, eu me esqueci. Temos sim, temos um direito que os grupos dominantes costumam ler para nós, principalmente quando somos presos em protestos que visam garantir direitos para a nossa classe. "Você tem o direito de permanecer calado", diz os grupos opressores. Esse é o direito que eles impõe aos estudantes de todas as partes, direito de permanecer calado e suportar pacificamente a opressão, a tirania e as exclusões.

Todas as classes têm os seus direitos, principalmente trabalhistas, e nós não temos nada. Inclusive existe uma lei chamada lei do escravo, digo estágio. Uma lei que autoriza os grupos dominantes a escravizarem os estudantes. Trabalhamos sem ter direitos trabalhistas. Somos mão-de-obra barata para o sistema. Nenhuma outra classe suporta isso. Nós suportamos. Por que suportamos ?

Além de não termos direitos trabalhistas ainda recebemos salários miseráveis. O nosso trabalho não tem valor. Fazemos o mesmo serviço que a outra pessoa. Em alguns casos fazemos um serviço melhor, com mais detalhe, com mais precisão. E, mesmo assim, a outra pessoa recebe cinco vezes mais. Nós somos os escraviários. A outra pessoa é um empregado contratado pela CLT. Nenhuma outra classe aceita isso. Por que nós aceitamos ?

Mas dirão: "Estágio não é trabalho." Se não é trabalho é o quê ? Jogo de futebol ? Mesmo assim insistem: "Estágio é aprendizagem." Eu pergunto: que tipo de aprendizagem ? Pegam um estudante de Direito para ser office boy de luxo. Pegam um estudante de economia para ser caixa de banco. Um estudante de comunicação e artes para ser atendente. De que tipo de aprendizagem estamos falando ?

A classe estudantil é uma classe oprimida e excluída. Somos uma classe sem direitos. Somos hipossuficientes dentro de um sistema perverso e explorador. Não existe uma legislação para nos proteger. E isso tem que mudar. E só muda com luta, com ocupação. Mas não basta ocupar e quando a coisa engrossar sair correndo. É preciso resistir. É preciso mostrar que vamos lutar até o fim. É preciso mostrar a nossa coragem e a nossa revolta. É preciso resistir.

Isso porque não somos uma classe qualquer. Somos a classe que gera o futuro. Todas as demais classes são estáveis, fixas, conservadoras. Não mudam a 200 anos. Nós não ? Nós mudamos de geração a geração. Além disso, estamos abertos ao novo, às inovações. Assimilamos facilmente novos comportamentos, novas condutas e valores e fazemos isso sem preconceito e sem discriminações.

Nós estudantes somos a classe que pode mudar o mundo, pois carregamos conosco o pode da transformação, da mudança e da revolução. Por isso somos inigualáveis. Por isso precisamos estabelecer uma consciência de classe. Precisamos resisstir até o último muito aos ataques dos grupos dominantes. Precisamos lutar bravamente e mostrar aos opressores que não conseguirão derrotar a nossa união, que eles opressores passarão e nós resistiremos.

Precisamos firmar nossas posições em leis. Por isso a nossa luta é uma luta por direitos e por garantias. A classe estudantil precisa ser coberta e protegida. Queremos assistência estudantil de qualidade, queremos universidade pública e gratuita com qualidade, queremos direitos trabalhistas (estudar é um trabalho), queremos direito de ocupação (quando não atenderem às nossas reivindicaçãoes ocupamos), queremos o direito de não sermos escravos e a lei de estágio deve garantir direitos trabalhistas.

Por isso a ocupação da reitoria da USP deve ser mantida até recebermos todos os direitos que pleiteamos. A vitória aqui significa que os demais temas continuarão sendo trabalhados com mais força, pois demonstrará a união da classe estudantil em torno de seus interesses. Temos que resistir bravamente e todos os estudantes deve fazer parte dessa resistência e dessa luta. Não podemos postergar a escravidão que está se perpetuando. Não podemos tolerar mais a opressão contra a classe estudantil.

Aqui na USP lutamos contra a opressão do Estado sobre os estudantes, querem tirar as autonomia universitária para poderem nos chicotear com mais força. Estão sucateando as universidades estatais para matar o espírito estudantil de mudança e revolução. Querem acabar com a assistência estudantil para expulsar os alunos pobres das universidades públicas. Isso porque com pouca assistência estudantil geram competição entre os estudantes pobres e assim conseguem esconder a máquina totalitária universitária que reproduz e alimenta as desigualdades.

Sem assistência estudantil não adianta ter política de cotas. Não adianta o aluno pobre ser superdotado e entrar na universidade pública, pois sem ela e com a política de cotas duas portas se abrem: a da frente e a dos fundos. O aluno entra pela porta da frente, mas a exclusão econômica e a falta de assistência, o expulsa pela porta dos fundos. Sem assistência de qualidade o aluno entra, mas não permanece e não consegue terminar o curso.

E se for aqui na USP, quando o aluno pobre estiver saindo pelas portas dos fundos, vítima da exclusão econômica, corre o risco de chocar-se com os apadrinhados do Pinóquio, digo Pinotti, que estão entrando às escondidas.

É a exclusão econômica determinando a exclusão social e reproduzindo as desigualdades no seio da sociedade. Temos que lutar contra isso. Temos que enfrentar os grupos opressores e tirânicos. Não só enfrentá-los, precisamos vencê-los.

Por isso temos que resistir. Essa causa é sensata, é coerente e é justa. É uma causa histórica que tem que ser resolvida agora. Pedimos o mínimo e terão que nos ouvir. Nenhuma conquista vem facilmente. Nenhum direito vemd e mão beijada. Lutamos contra interesses poderosos, contra a força do Estado, mas a nossa causa tem uma força moral que, certamente, vai derrotá-los. Lutamos contra a opressão, contra a exclusão, contra a escravidão. Vencemos em outros momentos da história e venceremos agora.

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Se a polícia entrar no Campus devemos conclamar todos os estudantes da capital a se dirigirem para a Cidade Universitária. Assim, formamos grupos de resistência e ataque. Se invadirem a Reitoria para expulsar os estudantes, o prejuízo que terão deverá ser mil vezes maior do aquilo que pedimos.

E se não podemos resistir dentro da reitoria, resistiremos fora; transformamos a Cidade Universitária em uma praça de guerra e atacaremos de todos os pontos. Pedimos sensatez, coerência e justiça e se querem dar nos repressão, podemos destruir tudo que está ao nosso alcance.

Pior do que isso. Vão querer prender muitos estudantes, inclusive eu. E essa será a última besteira que farão, pois vão misturar estudantes universitários com presos do PCC, assim como o regime militar misturou presos políticos com bandidos comuns, o que aconteceu ?

Por isso eu peço encarecidamente à magnifica, ouça e atenda os nossos pedidos e tudo isso acabará rapidamente. Se usarem a repressão policial para acabar com uma manifestação pacífica, com pedidos legítimos, vão militarizar o problema, pois vão atirar, ferir e matar estudantes, e essas mortes serão vingadas. Isso eu garanto.

O Estado sempre usa a força contra a população civil. Usa a força contra pedido legítimos. Usa a força para negar direitos. Até agora a população civil suportou os tiros, as bombas e os gases. Mas não vamos tolerar isso mais. Agora vamos reagir de igual para igual. Chega de opressão, chega de repressão, chega de tirania.