Professores da Universidade de São Paulo (USP buscar) condenam a intervenção da Polícia Militar nas negociações entre a reitora Suely Vilela e os estudantes que ocupam o prédio da reitoria desde o dia 3 de maio. "A hora que a universidade precisar da força de repressão é porque perdeu seu lugar de crítica, de negociação, de aceitação das idéias, de desenvolvimento de conhecimento e da ciência. Isso mata a universidade", afirma a professora Zilda Iokoi, do Laboratório de Estudos da Intolerância (LEI) da USP.

"A universidade tem autonomia e não precisa da força de repressão do estado. Todas as vezes que a polícia entrou no campus foram no tempo da ditadura militar, e não queremos esse retorno", completa a professora. Ela afirma que as normas de convencimento e de violência da polícia militar não pertencem ao universo de uma instituição de ensino.

Preocupados com a possibilidade da entrada da tropa de choque na USP, um grupo de docentes chamados pela professora Zilda formou uma comissão para acompanhar as negociações entre os alunos e a reitoria e evitar atos violentos. Logo na primeira reunião, nesta sexta-feira (18), a comissão mediadora conseguiu fazer as negociações avançarem para que estudantes e representantes da reitoria entrem em acordo.

Autonomia

A autonomia universitária, ponto central dos debates do protesto de ocupação da reitoria, é fundamental para a livre pesquisa. Segundo o professor Leonel Itaussu Almeida Mello, do Departamento de Ciência Política da USP, a origem da instituição universitária está ligada à sua independência de gestão.

"A universidade surgiu na baixa Idade Média e, desde aquela época, a liberdade de pensamento era garantida pela não intervenção das autoridades exteriores. Isso ocorria, por exemplo, nas universidades de Bologna, Cambridge e Oxford", diz Mello. Por isso, de acordo com o professor, os conflitos têm de ser resolvidos pela comunidade, envolvendo estudantes, professores e alunos. Nós [da universidade] nos autogerimos e prestamos contas à sociedade.

"Muita gente acha que o governo estadual restringe o que é mais precioso", diz Mello, estas divergências ocasionaram os conflitos que culminaram com a ocupação da reitoria e com a ameaça da violência policial.

Episódios

Mello, em 22 anos como docente, nunca viu uso da força policial dentro da universidade, mas se recorda de três ocasiões históricas, em que a instituição foi palco de embates sangrentos.

Um dos mais conhecidos conflitos se deu em outubro de 1968, por uma disputa entre estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, na época situada na Rua Maria Antônia, e do Mackenzie. A batalha durou três horas, com intervenção policial, muita violência e deixou um estudante morto e vários feridos.

A Faculdade de Direito e suas famosas arcadas também tiveram seus dias de sangue. Em 23 de junho de 1968, os estudantes do centro acadêmico resolveram ocupar a Faculdade de Direito. A entrada do prédio foi coberta por uma barricada de tijolos e os estudantes permaneceram lá por 26 dias. A polícia agiu violentamente e prendeu 40 alunos, além de lacrar o centro acadêmico.

O Conjunto Residencial da USP (Crusp) também foi invadido nos anos de chumbo. Quatro dias após o decreto do Ato Institucional nº 5, que entrou em vigor no dia 13 de dezembro e endureceu a ditadura, o exército entrou nos prédios, revistou e prendeu moradores.