sexta-feira, 11 de maio de 2007

Ocupação da Reitoria da USP - Ultimato da Reitora
Por Leonildo Correa 11/05/2007 às 10:06

Mas a variável que está correndo aqui é outra. A idéia é não deixar o movimento estudantil obter sucesso, pois se isso ocorrer a moda vai se espalhar, não só para outras universidades, mas também para outros movimentos sociais.

Se com ocupação a reitora não estão negociando, imagina se vai negociar sem ocupação. Mas o que me deixa atônito nessa história é o fato desses professores, que dirigem a universidade hoje, terem sido criados em uma época de máxima repressão. Isso deveria ter feito deles pessoas democráticas, abertas ao diálogo e à negociação. Não fez. Acho que fizeram tantas monstruosidades com essa geração que transformou a geração toda em monstro.

Vejam o caso do Governador Serra. Foi aluno da USP. Era líder estudantil. Foi diretor da UNE. Foi perseguido e exilado no Chile. Isso deveria ter feito dele uma pessoa compreensiva e responsável, não só com o movimento estudantil e com as causas dos estudantes, mas também com os demais movimentos sociais e com a universidade pública.

E o que temos hoje ? Temos um Serra que ataca a autonomia universitária e cria uma secretaria para controlar as universidades. Não só isso, põem como secretário responsável pelas universidades públicas um professor de universidade particular. O que isso significa ? Significa que ele quer é acabar com a USP, a UNESP e a UNICAMP. Por isso colocou um lobo para pastorear os cordeiros, um gavião para cuidar dos pintinhos.

E a cartinha do Pinotti para a Reitora pedindo (em tom de exigência) uma vaga na pós-graduação da USP para o empregado de gabinete mostra isso claramente. Mostra que mal a secretaria foi criada e as picaretagens já começaram. Qual será o próximo passo ? Colocar um deputado do PSDB como Reitor da USP, outro como Reitor da Unicamp e outro como Reitor da UNESP ?

Mas o pior de tudo foi o Serra rancoroso que foi na TV elogiar as ações da polícia contra os movimentos sociais e os participantes da virada cultural. Se os Racionais são críticos fortes da repressão policial, o que a polícia estava fazendo no show deles ? Certamente, a polícia foi no show para promover quebradeira e impedir que o show acontecesse. E o Serra vai na TV elogiar a repressão policial. Vejam a falta de coerência entre a história do indivíduo e o seu comportamento. Ele mudou ? Acho que não. Como diz Lionel Luthor da Série "SmallVille": "As pessoas não mudam, elas são o que sempre foram. Porém, usam máscaras que nos confundem e enganam."

Portanto, engana-se redondamente quem acredita que o regime militar não obteve sucesso com seu modelo educacional-repressor. Obteve sim, pois deformou completamente toda a capacidade de pensamento de uma geração. E hoje somos governados e dirigidos por filhotes da repressão e da ditadura, pelas crias dos coronéis e generais.

Na época da ditadura eles lutavam contra o regime, porém ao longo dos anos o poder do sistema, o medo, as violações, a educação técnica e sem fundamento filosófico e político, etc, matou toda capacidade de pensamento e reflexão. O regime autoritário entrou dentro deles e os assimilou. Sorte nossa que o regime acabou antes desses robôs da ditadura terem entrado em ação.

Isso explica o que está acontecendo aqui na USP. A Reitora fala em negociação, mas não negocia nada. Fala em negociação para a imprensa, mas na mesa com os alunos quer que prevaleça a sua posição. Menos pior, pois o Vice-Reitor, durante as negociações, não falava nada, só tremia.

Além disso, esse discurso de negociação da Reitora para a imprensa tem por finalidade legitimar a repressão policial. Ela vai dizer que tentou negociar, tentou isso, tentou aquilo. Porém, na realidade, durante as negociações, não tentou nada. Quer que aceitemos promessas vazias, propostas sem prazo, etc.

Não, isso não é negociação. Não podemos acabar o movimento levando para casa um saco de balas e uma caixa de doces. É isso que a Reitora quer, que a reitoria seja desocupada sem que ela dê nada.

Mas o problema não é a Reitora. O problema são os assessores da Reitora. Eles impedem que a negociação se efetive, passando informações falsas e dados incorretos para a Reitora. Dizem que é impossível isso, que não tem dinheiro para aquilo, que a Universidade não pode fazê-lo, etc. Tudo mentira. A USP tem dinheiro para contratar professores. A USP tem dinheiro para fazer as reformas nas unidades, inclusive está reformando a reitoria. Se há dinheiro para a reitoria, se há dinheiro para reformar a FEA, se há dinheiro para reformar a Faculdade de Direito (ganhou um prédio novo) e se há dinheiro para reformar a Medicina, por que não há dinheiro para reformar a FFLCH ? As moradias estudantis podem ser construídas no sistema de parceria público-privada. Se a Reitora não sabe como fazê-lo é só pedir para a Professora da Faculdade de Direito Maria Sylvia di Pietro que ela ensina como. O quê não é possível fazer ?

Mas a variável que está correndo aqui é outra. A idéia é não deixar o movimento estudantil obter sucesso, pois se isso ocorrer a moda vai se espalhar, não só para outras universidades, mas também para outros movimentos sociais. O medo do Tirano Serra é que o Palácio dos Bandeirantes também seja ocupado e ele tenha que despachar de algum Batalhão da PM. Inclusive esse seria o local adequado para ele governar o Estado.

Essa é a idéia que está passando na cabeça dos assessores e do tirano Serra. Por isso querer impedir que saia um acordo que beneficie os alunos. Querem mostrar, assim como faz o tirano Serra, que a polícia é a solução, que movimento social não obtém sucesso, que somos baderneiros, etc.

Enfim, fechando o cenário da diplomacia, do diálogo e das negociações, abrem-se as portas para a entrada dos radicais. Até agora os radicais foram contidos dentro do movimento de ocupação, pois esperávamos que tudo se resolvesse na conversa e na argumentação, mas se isso não for possível, se a repressão vai falar mais alto, soltem os radicais. É sempre assim: a última barreira de resistência pertence aos radicais. Por isso, eu sempre falo pouco e só entro na conversa no fim, quando todas as luzes da razão se apagam, somente a força e a violência resolvem. Isso vale para o Estado, mas vale também para aqueles que lutam contra a opressão e a tirania do Estado.

O Estado pode sangrar os movimentos sociais. Mas os movimentos sociais também podem sangrar o Estado e os governantes. Nós somos a maioria. Nós somos a coletividade. O poder nos pertence. Lutamos por direitos. Lutamos por Justiça. E se querem nossas cabeças, terão que vir pegar. Os governantes são empregados da coletividade e se não ouvem e nem atendem as nossas exigências, podemos demiti-lo a qualquer tempo. Derrubá-los do pedestal.

Deus Salve a Ocupação.

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