terça-feira, 5 de junho de 2007

Os instrumentos democráticos estão se esgotando

Um governo sem sensibilidade social se apoderou do poder e do Estado. Usa o poder e a força para proteger seus interesses autoritários. Usa o poder e a força contra os legítimos donos do poder: o povo. Um Governo que se esconde no Palácio. Isola-se para que nenhum cidadão se aproxime e o chame de ditador. Um Governo que governa por decretos. Decretos ditatoriais. Decretos inconstitucionais. Decretos ilegais. Decretos amaldiçoados. Estamos em uma Democracia ou vivemos numa ditadura dissimulada ?

A ocupação da Reitoria da USP foi uma decisão forte. Forte porém necessária. Único meio das reivindicações serem ouvidas e negociadas. A ocupação rompeu a indiferença da Reitora e mostrou aos dirigintes da Universidade e ao governo que os estudantes são a coletividade e possuem força e coragem para enfrentar e derrotar o autoritarismo. Estudantes que buscam direitos que lhes pertencem. Estudantes que buscam por constitucionalidade e pelo Estado de Direito. Estudantes que lutam por Democracia e justiça.

Contra os Estudantes posta-se o autoritarismo. Contra os estudantes levantam-se a truculência,ameaças e intimidações. Contra os estudantes há o terrorismo de Estado, as mentalidades autoritárias que implantaram a ditadura no Brasil, a falsa legalidade que mascara interesses e mentiras.

Essa é uma luta sensata, coerente e justa. Uma luta que tem objetivos claros expressos numa lista de reivindicações. Uma luta que se baseou em instrumentos democráticos de pressão da coletividade sobre o Estado. Porém, uma luta que chegou ao máximo uso desses instrumentos: a ocupação.

Ocupamos para sermos ouvidos. Ocupamos para que nossas exigências sejam atendidas. Ocupamos para alcançar nossos objetivos, os Direitos que nos pertencem, o fim de decretos inconstitucionais e do Terrorismo de Estado.

Contudo, agora eu pergunto: E se a ocupação não funcionar ? Existe mais algum instrumento democrático que nós, coletividade estudantil, possamos lançar mão para alcançar as nossas reivindicações ? Se o Terrorismo de Estado vencer e nos atacar com o choque, se o autoritarismo entrar na Reitoria e expulsar os estudantes, o que faremos no próximo movimento ?

A nossa luta é contra a opressão, contra a tirania, contra a exclusão e contra o Estado autoritário. Se a Ocupação não for suficiente para alcançar os nossos objetivos, os Direitos que nos pertencem, a justiça que buscamos,no próximo movimento teremos que ser mais fortes e mais violentos. Se a ocupação não alcançar os objetivos, o próximo movimento não poderá ser democrático, pois todos os instrumentos democráticos deram em nada, nenhuma negociação funcionou, nenhuma pressão deu certo, apenas nos deram mais enganação, mais mentiras, mais repressão, mais terrorismo de Estado, mais injustiças.

Se a ocupação não funcionar, a Democracia perdeu. Se a ocupação não funcionar, na próxima vez não iremos pedir mais nada, não iremos negociar mais nada, não iremos perder o nosso tempo. Tudo o que faremos será impor diretamente as nossas decisões, as nossas reivindicações e os nossos objetivos. Antes que usem o Terrorismo de Estado contra nós, nós usaremos o terrorismo contra eles. Antes que usem a força e a repressão contra nós, nós usaremos a força e a repressão contra eles. Antes que eles nos apunhalem e nos sangrem até a morte, nós iremos apunhalá-los e sangrá-los até morrerem.

Se a Democracia perdeu e morreu, só nos resta usar a força. Tenho certeza que as negociações seriam feitas rapidamente se tivéssemos capturado todas as autoridades envolvidas e obrigado elas a assinarem as nossas reivindicações, sob pena de não o fazerem e serem enforcadas em praça pública. Eles planejam invadir a reitoria ocupada para nos expulsar a pontapés, a tiro de borracha e a gás de pimenta. Portanto, também devemos planejar fazer coisas violentas com eles.

Percebam que caminhamos numa escala ascendente de radicalismo. Uma escala que começa com reuniões e negociações, mas que devido a boicotes, ausência das autoridades, etc vai se tornando cada vez mais inútil. Falam de negociação, mas não estão dispostos a negociar. Falam de não-violência, mas nos atacam com Terrorismo de Estado, coações, intimidações, sprays de pimenta, espingardas de tiro de borracha, rifles de longo alcance. Certamente, hoje poderão vir aqui e nos espancarem o quanto quiserem. Somos estudantes e estamos desarmados. Poderão fazer isso hoje, mas não poderão fazer isso amanhã, pois no próximo movimento seremos muito mais fortes e estaremos preparados para responder a quaisquer Terrorismo de Estado.

Não só isso, as autoridades públicas vão empurrando os movimentos sociais para becos sem saída. Os movimentos sociais são empurrados para o radicalismo e para a violência pelo Terrorismo de Estado. Os instrumentos democráticos e as negociações tornam-se inoperantes diante da truculência das autoridades públicas. Cercam todos os lados e usam a mídia para espalhar o medo e a discórdia. A mídia exerce um papel importante dentro do Terrorismo de Estado. É ela que espalha as ameaças e as intimidações.

As autoridades democráticas são obrigadas a usarem os instrumentos democráticos. São obrigadas a negociarem e a darem uma resposta rápida para os problemas sociais. Se essas autoridades cumprissem suas obrigações não teríamos problemas. Mas elas não cumprem nem as obrigações e nem as promessas que fazem. Voltam atrás nas negociações. Retiram o que haviam cedido.

Os Movimentos Sociais se levantam e começam a gritar porque as autoridades públicas falham na condução do Estado e dos órgãos públicos. Os movimentos sociais defendem a coletividade e são as raízes da democracia. Levantam e gritam legitimamente.

As autoridades democráticas respondem ao levante e aos gritos com Terrorismo de Estado e repressão. Ao invés de atacarem Os problemas sociais e suas causas, as autoridades preferem atacar a coletividade, os militantes e o movimento. Os problemas não são resolvidos e se acumulam. Contra o Terrorismo de Estado, os movimentos sociais radicalizam seus discursos e se armam. Se o Governo mata militantes, os militantes devem matar o governo. Essa é a lógica que
alimenta a contestação armada.

As autoridades democráticas preferem investir na repressão e na perseguição dos militantes e dos
movimentos do que resolver os problemas sociais, do que resolver as causas do levante. Resultado: uma guerra social começa a ser desenhada e orquestrada.

Depois da ocupação não resta mais nada democrático a ser feito. Se a ocupação não funciona, os instrumentos democráticos e de pressão não funcionam. Contudo, os problemas terão que ser resolvidos, de uma forma ou de outra. Diante disso só resta um caminho: exterminar as autoridades públicas responsáveis pela desgraça social. Exterminando as autoridades que criam a desgraça social e alimentam a opressão, a tirania e as exclusões, a tendência é que a desgraça cesse ou desapareça. Exterminando os controladores do sistema, o sistem muda, ou seja, terá que, obrigatoriamente, passar para outra pessoa que, certamente, não seguirá o mesmo caminho do antecessor, para não acabar exterminado também.

Por isso, é melhor que os instrumentos democráticos de pressão funcionem, que a Democracia funcione e que o Terrorismo de Estado cesse. É melhor e mais seguro para todos que os conflitos sociais sejam resolvidos pela negociação e não pelo extermínio de uma das partes. A negociação, negociação mesmo e não enrolação, deve avançar para que a Democracia continue existindo.

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