PF deverá investigar Daniel Dantas

Folha de São Paulo -14/05/2006 - Kennedy Alencar
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/brasiliaonline/ult2307u92.shtml

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva partiu para o ataque em Viena. No Brasil, ministros e auxiliares de Lula tentaram entender os movimentos do banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. E avaliaram que Dantas bombardeia o governo porque teria dado dinheiro a lobistas com trânsito no PT, mas não teria recebido a mercadoria.

Foi assim que entenderam a publicação na última edição da revista "Veja" de uma lista com supostas contas em paraísos fiscais de Lula e ex-caciques do PT.

Em conversas reservadas, esses auxiliares de Lula dizem que o "Dossiê Dantas" lembra o "Dossiê Caymann", papelada falsa que surgiu em 1998 atribuindo ao então presidente Fernando Henrique Cardoso e outros dirigentes do PSDB uma conta conjunta e secreta no exterior.

O ex-prefeito Paulo Maluf, o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o ex-senador Gilberto Miranda são, até hoje, os principais suspeitos daquela divulgação. Caíram no conto de falsários de Miami.

Agora, surge uma lista de supostas contas de petistas no exterior, que "Veja" diz ter sido elaborada por um investigador contratado por Dantas e cuja autenticidade a revista afirma que não pôde comprovar. A cúpula do governo se diz tranqüila em relação à lista. Nega, com dureza, a existência das contas.

No entanto, avalia que Dantas usa a lista para mostrar ao governo que, se quiser, poderia apresentar munição verdadeira contra petistas. Exemplo: doação de muito dinheiro ao valerioduto, usado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares.

Dantas também tentou se aproximar de José Dirceu, hoje ex-ministro, quando o petista chefiava a Casa Civil. Fez isso por intermédio do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, a quem diz ter contratado.

Ou seja, Dantas acha que, em vão, moveu mundos e fundos para ter seus pleitos atendidos pelo governo no conflito que trava com fundos de pensão e o Citibank a respeito do controle acionário da Brasil Telecom.

Detalhe: o ex-ministro Luiz Gushiken barrou as investidas de Dantas, bem como uma tentativa do banqueiro de contribuir para a campanha de Lula em 2002. O próprio presidente considera que agiu corretamente ao não ceder a Dantas, mas crê que é vítima de bombardeio por isso.

A resposta do governo deverá ser uma investigação da Polícia Federal sobre o dossiê elaborado pelo banqueiro. Auxiliares do presidente dizem que ele sofreu uma acusação falsa e que isso deve ser investigado. A revista atribuiu a origem da informação a Dantas. Ao mesmo tempo, Lula e petistas também deverão apresentar ações na Justiça contra o banqueiro.

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Kennedy Alencar, 38, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.