PCC investe em armas, tráfico, crimes e em bolsas de estudo
18/05/2006 - 20h27 - Reuters
SÃO PAULO (Reuters) - A exemplo de grandes organizações criminosas, o Primeiro Comando da Capital (PCC) está por trás de compra de armamento pesado, financiamento de crimes, execuções de inimigos comandadas pelo celular de dentro das prisões e venda de drogas. O grupo também banca os estudos de pessoas que possam ingressar no sistema judiciário para que beneficiem seus integrantes.
Esse relato consta do depoimento secreto prestado na semana passada por dois delegados de São Paulo à CPI do Tráfico de Armas, na Câmara dos Deputados, e cujo teor foi divulgado nesta quinta-feira pelo site Congresso em Foco (www.congressoemfoco.com.br).
Ao falar do uso de celulares por presos, o diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), delegado Godofredo Bittencourt Filho, comparou: "O celular dentro de cadeia é mais perigoso do que 10 fuzis na rua". Ele criticou as operadoras por não ajudarem a identificar as chamadas nem a cortar o sinal do celular, de acordo com o site.
Segundo o delegado Ruy Ferraz Fontes, titular da 5ª Delegacia de Roubo a Bancos do Deic, a polícia certa vez gravou uma audioconferência da qual participavam 12 presos ligados à cúpula do PCC. Discutiam sobre a execução de um preso em São Vicente (SP).
"Eles julgaram, através da conferência de chamada, esse camarada, condenaram esse sujeito à morte, e ouviram os tiros que mataram esse sujeito. Isso está gravado, para demonstrar a arma eficiente que é o telefone celular", contou Fontes aos deputados, de acordo com o site.
Fontes também falou que o PCC arrecada recursos com tráfico e com a cobrança de R$ 550 e de R$ 50 de egressos das prisões e de presidiários, respectivamente. Não somente as entradas como as saídas estavam registradas em livro-caixa apreendido há 8 meses pela polícia. Em um mês chegaram a movimentar R$ 750 mil. Parte do dinheiro é emprestado (a juros) para a prática de crimes, parte para a compra de armas --que já chegaram a ser enviadas por Sedex para um presídio e por pouco não entraram.
Mas há outros investimentos. "Eles formam, pagam pela formatura de pessoas nas escolas de Direito. Está lançado no livro, está escriturado em livro", acrescentou Fontes, segundo o site.
Francisco "jurídico"
Parte das afirmações dos delegados coincide com o relato à Reuters de um estudante do 4º ano de direito na Unip, que se identificou apenas como Francisco "Jurídico", e que por quatro anos cumpriu pena na mesma prisão (Araraquara) que Marcos Camacho, o Marcola, considerado o líder máximo do PCC. Os dois estiveram juntos no mesmo pavilhão e acabaram se tornando amigos, segundo Francisco.
"O partido (como é conhecido o PCC entre seus membros) foi criado com o objetivo de criar grandes advogados, grandes desembargadores, grandes políticos, grandes juízes ou então aplicar em outras pessoas, como se fosse uma máfia", disse à Reuters na quarta-feira na Pastoral Carcerária, em São Paulo. Livre desde 1998, Francisco, 51 anos, acrescentou: "Não era para pegar o cara que estava na cadeia, mas bancar os estudos de quem estava fora."
Os delegados descrevem Marcola como o cérebro por trás do PCC, de acordo com o site. Um leitor ávido de tudo o que se refere às estruturas de células políticas pensadas por Trotsky e Lênin. Marcola também teria como livro de cabeceira o célebre "A Arte da Guerra".
A fama de leitor e homem articulado é reiterada por Francisco. "Lembro que ele lia muito sobre Gandhi, o homem que conseguiu acabar com o Império britânico na Índia", relatou.
Para o delegado Bittencourt, o governo de São Paulo errou ao ter espalhado por presídios do Brasil lideranças do PCC, segundo o site. E acrescenta: "O PCC é forte na Capital, mas ele é apoiado em todo o Brasil, aonde vai. Virou realmente uma febre. Ser do PCC é bom negócio."
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