quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Metafísica da Consciência
Livro II - Teoria da Consciência e Liberdade
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9. A Novidade Totalitária
Nesse ponto entra a questão da formatação da consciência. Considerando a consciência como um computador, a formatação implica em apagar todo o conteúdo da consciência e, em seguida, instalar novos conteúdos. Por exemplo, um computador que rodava o sistema Windows é formatado para instalação do sistema Linux.

Portanto, a formatação implica na substituição completa do conteúdo da consciência. Essa substituição ocasiona uma modificação total nas ordens emitidas, pois a base cognitiva foi modificada, assim como as informações, os saberes e os conhecimentos utilizados para as análises.
É exatamente isso que acontece nos sistemas totalitários. A consciência das pessoas que integram esse tipo de sistema é formatada e preparada para receber uma nova base cognitiva, novas informações, saberes e conhecimentos. A formatação das consciências é implantada em toda a sociedade, uniformizando, dessa forma, o agir das massas.

Logo, no contexto totalitário o conteúdo das consciências dos indivíduos não é natural, mas sim implantado pelo sistema vigente. Por isso, não há liberdade nesses sistemas, pois não há espaço para desenvolvimento e expressão da consciência individual. A ação dos indivíduos tem origem nas ordens emitidas pela consciência do sistema… O indivíduo não age de acordo com a sua própria vontade, pois ele não tem vontade em um sistema totalitário… A vontade que o indivíduo expressa é a vontade do sistema totalitário. O indivíduo não agiu de acordo com a sua própria consciência, mas foi levado a agir de acordo com a consciência do sistema.

Além disso, é válido dizer que a única forma de se inibir completamente a liberdade de um indivíduo é formatando a sua consciência e instalando, no lugar do conteúdo original, um conteúdo preparado para emitir ordens previamente estabelecidas. Não basta apenas criar normas que inibam ou impeçam a consciência de se manifestar, pois a consciência pode, perfeitamente, contrariar a norma ou ignorá-la, ou seja, as normas não retiram a liberdade do indivíduo, pois não podem e não conseguem formatar a consciência. As normas simplesmente reorientam ou condicionam a consciência do indivíduo exteriormente, limitando a liberdade.
Formatar a consciência do indivíduo significa apagar o conteúdo original e instalar no lugar dele um conteúdo artificial, um conteúdo capaz de tornar a pessoa um robô que apenas segue ordens, um robô obediente.

Contaminar o funcionamento natural da consciência, formatando a base de análise significa fazer uma espécie de lavagem cerebral que modifica o banco de dados analítico da consciência. O banco de dados formado com informações, saberes, conhecimentos, costumes, valores, etc, que o indivíduo captou ao longo da vida naturalmente é substituído por um banco de dados artificial, introjetado pelo sistema, dentro da consciência da pessoa.

Assim, a consciência, ao invés de analisar o banco de dados natural, analisa o banco de dados artificial. E é em cima deste último banco de dados que a consciência passa a operar, emitindo sentenças (vontade). Logo, a liberdade oriunda desta vontade não é natural, mas sim artificial, pois é viciada e contaminada, segue a consciência do sistema, não é a liberdade do indivíduo, mas sim a liberdade do sistema.

Inegavelmente, o conteúdo de uma consciência totalitária transforma a pessoa em um servo do sistema, em um indivíduo cego e obediente, um indivíduo que segue, a risca, as ordens dadas pelos operadores da máquina totalitária.

E é justamente nesse ponto que entra a novidade totalitária. O totalitarismo faz uma coisa que nenhum outro sistema tinha conseguido fazer antes. E que coisa é essa? O totalitarismo formatou a consciência dos indivíduos. Logo, retirou completamente a liberdade dos Seres Humanos que pertenciam àquele sistema. Todos os movimentos anteriores atingiam o indivíduo criando regras e normas que condicionavam as consciências e limitavam a liberdade, mas nenhum sistema jamais havia formatado a consciência das pessoas. Modificando, profundamente, o conteúdo da consciência, o totalitarismo retirou completamente a liberdade dos indivíduos.

Mas o totalitarismo foi além, muito além, disso, pois ele não só formatou a consciência, apagando, ou escondendo, o conteúdo original das consciências individuais, mas o substituiu por um conteúdo preparado pelo sistema, um conteúdo que formava a consciência do sistema totalitário.

Assim, as pessoas perderam a sua consciência individual, logo, perderam a sua liberdade individual; e receberam, em troca, a consciência do sistema, logo, passaram a ter a liberdade do sistema (poder de agir de acordo com a consciência do sistema). A consciência do sistema gera a liberdade do sistema.

Mas, como se dá a formatação da consciência nos sistemas totalitários? Em termos excessivamente genéricos, há uma espécie de lavagem cerebral em massa. Formata-se a consciência do indivíduo, contradizendo e confrontando com mentiras as informações, saberes e conhecimentos que ele possui… Em seguida, promove-se a perda da sua identidade e individualidade, imergindo-o em uma multidão de iguais.

Por isso, em um sistema totalitário a mídia, a propaganda e o terror são tão importantes. Por isso, o vazio de pensamento, a mediocridade e a indiferença são essenciais para o sucesso inicial do sistema. São características comuns no homem da massa, características que facilitam e garantem o sucesso de formatação e substituição do conteúdo das consciências individuais.

Pessoas com essas características têm o conteúdo de suas consciências facilmente formatados/modificados/substituídos. São pessoas dóceis, facilmente controladas e dominadas. Pessoas que não percebem que seus pensamentos são pensamentos do sistema, que suas idéias e ideais são idéias e ideais do sistema, que suas ações são ações do sistema. A consciência que possuem é a consciência do sistema. Pensam igual o sistema. Falam igual o sistema. Agem igual o sistema. Fazem o que o sistema faz.

A formatação da consciência, assim como a substituição do conteúdo desse sistema é facilitada pelas características da massa. De acordo com Hannah Arendt:

"Os movimentos totalitários são possíveis onde quer que existam massas que, por um motivo ou outro, desenvolveram certo gosto pela organização política. As massas não se unem pela consciência de um interesse comum e falta-lhes aquela específica articulação de classes que se expressa em objetivos determinados, limitados e atingíveis. O termo massa só se aplica quando lidamos com pessoas que, simplesmente devido ao seu número, ou à sua indiferença, ou a uma mistura de ambos, não se podem integrar numa organização profissional ou sindicato de trabalhadores. Potencialmente, as massas existem em qualquer país e constituem a maioria das pessoas neutras e politicamente indiferentes, que nunca se filiam a um partido e raramente exercem o poder de voto. (p. 399)"

Percebemos, portanto, que o homem da massa é um homem que não desenvolveu a sua consciência política e pouco exercita a sua consciência social, que também é atrofiada. Logo, não tem um pensamento crítico evidente e pode ser facilmente controlado, seguindo a voz de quem grita mais alto. Este homem, que integra a massa de iguais, é o modelo ideal para a ação da mão invisível do totalitarismo, para formatação da consciência individual e instalação da consciência totalitária.

O totalitarismo é um sistema que não admite questionamentos. Quaisquer questionamentos põem o sistema em risco, podendo romper a estrutura e mostrar as reais intenções e os objetivos da coisa. O todo é visto apenas por quem estrutura e controla o sistema. E o homem da massa não questiona nada, apenas executa as ordens. Logo, é o homem ideal para assumir a função de agente totalitário. É o indivíduo totalitário natural, precisando apenas de treinamento básico para o posto futuro.

O método totalitário de formatação da consciência dos indivíduos acompanhado pela instalação da consciência do sistema totalitário em cada pessoa, nas palavras de Hannah Arendt, é a produção/construção de uma massa atomizada e amorfa. A mão invisível do totalitarismo ataca toda a sociedade de uma só vez.
(...)

Portanto, essa atomização das massas, citada por Hannah Arendt, é um método eficiente para formatação da consciência individual das pessoas. Este método elimina a consciência individual através da eliminação das partes, das outras consciências que compõem a consciência individual. Primeiro, ataca a consciência política, em seguida a consciência social. Logo após a consciência coletiva e, por último, assimila a consciência individual como um todo. Tornando o indivíduo um membro do sistema. Mais uma pessoa que roda, e sua consciência, o sistema operacional totalitário, um sistema operacional com conteúdo totalitário.

Ao mesmo tempo em que destrói a individualidade da pessoa, a consciência individual, o totalitarismo insere a consciência do sistema totalitário no indivíduo. Na descrição, isto aparece no fato dos velhos amigos serem transformados em delatores ou nos mais implacáveis inimigos. Transformados em zumbis que protegem o sistema totalitário, detectando e denunciando a existência de pessoas que ainda não foram assimiladas pelo sistema, ou seja, de pessoas que ainda possuem intactas a consciência individual natural. Logo, pessoas que podem questionar e destruir o sistema por dentro, exercendo a liberdade natural, oriunda da consciência individual natural.

(...)

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