sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Maiakóvski no caminho da célula-tronco
Há um poema do Eduardo Alves da Costa com o título "No caminho com Maiakóvski". Este poema diz:
"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"

A imagem mostrada por este poema é muito interessante. Uma imagem simples e singela que revela o plano do mal inserido em discursos do bem. Discursos solidários, altruístas e com casca inofensiva. Discursos que são verdadeiros cavalo de Tróia. Discursos que carregam, em seu interior, a semente do mal.

A idéia é simples e consiste em fragmentar as ações em milhares de pedaços. Quem vê os pedaços separados, não vê o todo. Não vê o conjunto reunido. Inegavelmente, é um truque, um artifício, muito eficiente.

Além disso, constroem um discurso que não pode ser refutado sem se expôr. Com isso paralisam e silenciam os homens de bem que lutam contra a hegemonia e o domínio do mal. "Roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. "

Isto se aplica perfeitamente às pesquisas com células-tronco. Dizem eles: "são embriões congelados há mais de três anos... São embriões descartáveis... São embriões inviáveis..." Pequenas frases. Frases inofensivas. Frases cavalo de Tróia que banalizam a vida e tentam jogar uma espessa nuvem de fumaça sobre a questão das células-tronco. Uma nuvem de fumaça que tem por finalidade esconder a vida que será exterminada e evidenciar uma possível, uma provável (não há certeza de nada), cura para doença...

O discurso foi construído para nos paralisar. Estão pisando as nossas flores, mas como estão buscando cura para doenças, não dizemos nada e aceitamos. Porém, não são meras flores. São vidas que estão sendo exterminadas. Vidas que estão servindo de cobaias para a ciência...

Inclusive, eu considero uma aberração a fecundação in vitro. É contra a natureza. É contra a biologia. Contra a ordem normal do mundo. Pior, fazem a fecundação in vitro e congelam os embriões. Geram a vida e depois a congelam ou descartam. Existe vida descartável ? Como um embrião pode ser inviável ? "Pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada."

Agora, dizem eles, é só pesquisa para compreender o mecanismo. Esta idéia de "compreender o mecanismo" não é nova. Lembro-me dos nazistas. Lembro do Mengele e de suas experiências para compreender o mecanismo. Lembram que ele cortava os braços de crianças e tentava colar o braço de uma na outra ? O Mengele também queria compreender o mecanismo... O mecanismo da rejeição, etc...

Hoje são embriões congelados há mais de 3 anos. São embriões descartáveis. São embriões inviáveis. Porém, se descobrirem uma cura, usando estes embriões, começará a produção em escala comercial ou industrial. E daí ? De onde virá os embriões ? Será que irão produzir embriões em larga escala para fazer os medicamentos ? Será que haverá uma fábrica onde os embriões são exterminados, lioquefeitos, filtrados e transformados em líquido injetável ?

Os nazistas usavam os corpos dos exterminados para fazer sabão. Os cientistas atuais querem usar embriões para fazer medicamentos. Qual é a diferença ? "Pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada."

De repente, alguém, por exemplo o Ministro Temporão, pode ver mais longe e dizer: "Vamos juntar as coisas ! Vamos legalizar o aborto. Assim, as mães podem ganhar dinheiro vendendo o feto abortado para as indústrias que utilizam células-tronco para fabricar medicamento. Com isso, geramos mais uma fonte de riqueza, uma fonte de renda..." E o mal começa a espalhar suas raízes, a juntar as partes separadas. E tudo começou porque toleramos as pequenas ações, deixamos eles pisarem nossas flores, matarem nosso cão, e não dissemos nada.

Vejam que começaram com a fecundação in vitro. Começaram congelando os embriões. Como nós deixamos passar, agora querem usar os embriões congelados, descartáveis ou inviáveis, para pesquisas. E se deixarmos passar, irão fazer coisa pior, muito pior...

Existem outras formas de pesquisa com células-tronco. Pesquisas que não usam células de embriões. Pesquisas que respeitam a vida. Estas são as pesquisas que devem ser incentivadas e financiadas. As demais devem ser banidas e proibidas, pois destroem a vida de indefesos, a vida do feto que está em desenvolvimento...

Na minha Teoria da Consciência e Liberdade considero a razão pura como um processo mental. Um processo formado por um conjunto de pensamentos coerentes que seguem o método científico. Porém, esta coerência e o método científico não são garantia de nada. Pode-se exterminar pessoas e grupos inteiros sendo coerente e seguindo o método científico. Não foi isto que o nazismo e o stalinismo fez ?

Por isso, a razão pura é um dos processos da consciência. É um processo que deve ser controlado e limitado por outros processos mentais. A razão pura não tem e nem deve ter força suficiente para agir sozinha e dominar os homens. Inclusive, este foi o grande erro do iluminismo. Erraram quando deram à razão pura hegemonia ou supremacia sobre todas as coisas e, principalmente, sobre o homem.

A razão pura, sendo um processo mental, é um sistema. E um sistema que, se agindo sozinho, é fanático e psicopata, seguindo os dogmas da ciência e buscando os objetivos estabelecidos sem atentar para suas ações, sem pesar as consequências, por exemplo, atentando para o fato de que a matéria-prima da pesquisa são embriões humanos, são pessoas em um estágio primitivo de desenvolvimento.

Contudo, a razão pura de um cientista, por ser fanática e psicopata, não hesitaria nem um pouco em usar os próprios filhos como cobaias dos experimentos científicos...

E nós não dissemos nada... Estão construindo as redes do mal bem diante dos nossos olhos, estão tecendo teias de destruição e extermínio ao nosso redor e nós não dizemos nada... "Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada."

É hora de prestar atenção, muita atenção, nas coisas que eles estão fazendo, naquilo que estão pedindo e nós estamos cedendo... A única coisa que pedem em troca é o nosso consentimento calado e obediente. Conduta que significa extermínio e destruição da vida e da dignidade humana...
Maiakóvski no caminho da célula-tronco
Há um poema do Eduardo Alves da Costa com o título "No caminho com Maiakóvski". Este poema diz:
"[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]"

A imagem mostrada por este poema é muito interessante. Uma imagem simples e singela que revela o plano do mal inserido em discursos do bem. Discursos solidários, altruístas e com casca inofensiva. Discursos que são verdadeiros cavalo de Tróia. Discursos que carregam, em seu interior, a semente do mal.

A idéia é simples e consiste em fragmentar as ações em milhares de pedaços. Quem vê os pedaços separados, não vê o todo. Não vê o conjunto reunido. Inegavelmente, é um truque, um artifício, muito eficiente.

Além disso, constroem um discurso que não pode ser refutado sem se expôr. Com isso paralisam e silenciam os homens de bem que lutam contra a hegemonia e o domínio do mal. "Roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. "

Isto se aplica perfeitamente às pesquisas com células-tronco. Dizem eles: "são embriões congelados há mais de três anos... São embriões descartáveis... São embriões inviáveis..." Pequenas frases. Frases inofensivas. Frases cavalo de Tróia que banalizam a vida e tentam jogar uma espessa nuvem de fumaça sobre a questão das células-tronco. Uma nuvem de fumaça que tem por finalidade esconder a vida que será exterminada e evidenciar uma possível, uma provável (não há certeza de nada), cura para doença...

O discurso foi construído para nos paralisar. Estão pisando as nossas flores, mas como estão buscando cura para doenças, não dizemos nada e aceitamos. Porém, não são meras flores. São vidas que estão sendo exterminadas. Vidas que estão servindo de cobaias para a ciência...

Inclusive, eu considero uma aberração a fecundação in vitro. É contra a natureza. É contra a biologia. Contra a ordem normal do mundo. Pior, fazem a fecundação in vitro e congelam os embriões. Geram a vida e depois a congelam ou descartam. Existe vida descartável ? Como um embrião pode ser inviável ? "Pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada."

Agora, dizem eles, é só pesquisa para compreender o mecanismo. Esta idéia de "compreender o mecanismo" não é nova. Lembro-me dos nazistas. Lembro do Mengele e de suas experiências para compreender o mecanismo. Lembram que ele cortava os braços de crianças e tentava colar o braço de uma na outra ? O Mengele também queria compreender o mecanismo... O mecanismo da rejeição, etc...

Hoje são embriões congelados há mais de 3 anos. São embriões descartáveis. São embriões inviáveis. Porém, se descobrirem uma cura, usando estes embriões, começará a produção em escala comercial ou industrial. E daí ? De onde virá os embriões ? Será que irão produzir embriões em larga escala para fazer os medicamentos ? Será que haverá uma fábrica onde os embriões são exterminados, lioquefeitos, filtrados e transformados em líquido injetável ?

Os nazistas usavam os corpos dos exterminados para fazer sabão. Os cientistas atuais querem usar embriões para fazer medicamentos. Qual é a diferença ? "Pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada."

De repente, alguém, por exemplo o Ministro Temporão, pode ver mais longe e dizer: "Vamos juntar as coisas ! Vamos legalizar o aborto. Assim, as mães podem ganhar dinheiro vendendo o feto abortado para as indústrias que utilizam células-tronco para fabricar medicamento. Com isso, geramos mais uma fonte de riqueza, uma fonte de renda..." E o mal começa a espalhar suas raízes, a juntar as partes separadas. E tudo começou porque toleramos as pequenas ações, deixamos eles pisarem nossas flores, matarem nosso cão, e não dissemos nada.

Vejam que começaram com a fecundação in vitro. Começaram congelando os embriões. Como nós deixamos passar, agora querem usar os embriões congelados, descartáveis ou inviáveis, para pesquisas. E se deixarmos passar, irão fazer coisa pior, muito pior...

Existem outras formas de pesquisa com células-tronco. Pesquisas que não usam células de embriões. Pesquisas que respeitam a vida. Estas são as pesquisas que devem ser incentivadas e financiadas. As demais devem ser banidas e proibidas, pois destroem a vida de indefesos, a vida do feto que está em desenvolvimento...

Na minha Teoria da Consciência e Liberdade considero a razão pura como um processo mental. Um processo formado por um conjunto de pensamentos coerentes que seguem o método científico. Porém, esta coerência e o método científico não são garantia de nada. Pode-se exterminar pessoas e grupos inteiros sendo coerente e seguindo o método científico. Não foi isto que o nazismo e o stalinismo fez ?

Por isso, a razão pura é um dos processos da consciência. É um processo que deve ser controlado e limitado por outros processos mentais. A razão pura não tem e nem deve ter força suficiente para agir sozinha e dominar os homens. Inclusive, este foi o grande erro do iluminismo. Erraram quando deram à razão pura hegemonia ou supremacia sobre todas as coisas e, principalmente, sobre o homem.

A razão pura, sendo um processo mental, é um sistema. E um sistema que, se agindo sozinho, é fanático e psicopata, seguindo os dogmas da ciência e buscando os objetivos estabelecidos sem atentar para suas ações, sem pesar as consequências, por exemplo, atentando para o fato de que a matéria-prima da pesquisa são embriões humanos, são pessoas em um estágio primitivo de desenvolvimento.

Contudo, a razão pura de um cientista, por ser fanática e psicopata, não hesitaria nem um pouco em usar os próprios filhos como cobaias dos experimentos científicos...

E nós não dissemos nada... Estão construindo as redes do mal bem diante dos nossos olhos, estão tecendo teias de destruição e extermínio ao nosso redor e nós não dizemos nada... "Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada."

É hora de prestar atenção, muita atenção, nas coisas que eles estão fazendo, naquilo que estão pedindo e nós estamos cedendo... A única coisa que pedem em troca é o nosso consentimento calado e obediente. Conduta que significa extermínio e destruição da vida e da dignidade humana...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Entre Obama e Hillary
Entre Obama e Hillary, eu escolho Obama. Por que ?
Devido à ligação quase íntima entre o Clinton e o FHC. A vitória de Hillary pode beneficiar, dissimuladamente, a tucanada no Brasil.

O FHC liga para o Clinton peindo favores. E o Bill "estagiária debaixo da mesa", por sua vez, buzina no ouvido da esposa. A Casa Branca pode jogar do lado dos bicudos. Portanto, é melhor olhar para o Obama.

Certamente, a vitória da Hillary poderia fortalecer a candidatura da Dilma. Porém, não é bom arriscar... Além disso, os petistas estão excessivamente apagados para 2010 e não me surpreenderia nem um pouco se levassem uma surra nas eleições.

Mais uma coisa... A ligação entre a direita e o centro, ou seja, entre o PSDB e o PT é perniciosa e nociva para o Brasil. Ela mostrará que é tudo farinha do mesmo saco, ou seja, entre FHC e Lula não há diferenças. Esta ligação dissolverá o discurso de ambos... Será que é tudo farinha do mesmo saco ?

De uma forma ou de outra, a única solução é destruir completamente o sistema político brasileiro e implantar outro. O sistema atual é uma construção de dominação, exclusão e exploração. Foi feito para manter o poder nas mãos de uma minoria branca e rica, mantendo a maioria na doença e na miséria. Portanto, o sistema tem que se destruído e o poder distribuído para a maioria.
Entre Obama e Hillary
Entre Obama e Hillary, eu escolho Obama. Por que ?
Devido à ligação quase íntima entre o Clinton e o FHC. A vitória de Hillary pode beneficiar, dissimuladamente, a tucanada no Brasil.

O FHC liga para o Clinton peindo favores. E o Bill "estagiária debaixo da mesa", por sua vez, buzina no ouvido da esposa. A Casa Branca pode jogar do lado dos bicudos. Portanto, é melhor olhar para o Obama.

Certamente, a vitória da Hillary poderia fortalecer a candidatura da Dilma. Porém, não é bom arriscar... Além disso, os petistas estão excessivamente apagados para 2010 e não me surpreenderia nem um pouco se levassem uma surra nas eleições.

Mais uma coisa... A ligação entre a direita e o centro, ou seja, entre o PSDB e o PT é perniciosa e nociva para o Brasil. Ela mostrará que é tudo farinha do mesmo saco, ou seja, entre FHC e Lula não há diferenças. Esta ligação dissolverá o discurso de ambos... Será que é tudo farinha do mesmo saco ?

De uma forma ou de outra, a única solução é destruir completamente o sistema político brasileiro e implantar outro. O sistema atual é uma construção de dominação, exclusão e exploração. Foi feito para manter o poder nas mãos de uma minoria branca e rica, mantendo a maioria na doença e na miséria. Portanto, o sistema tem que se destruído e o poder distribuído para a maioria.
Poemas antigos do Leonildo
Estes são alguns poemas da minha fase pessimista. Nada é mais pessimista do que estudar Física na USP. Enfim, coisas do passado.

A quadrilha mudou

João que amava o Raimundo
que amava a Tereza
que amava a Maria
que amava a Lili
que amava o Joaquim
que não amava ninguém.

João sumiu do mapa, depressão.
Raimundo enlouqueceu, estresse.
tereza teve um infarto, pressão.
Maria mudou de sexo, democracia.
Lili morreu de aids, drogas.
e Joaquim se casou com um tal
de Fernando
que não tinha entrado na história.

Veja Drummond,
como os tempos mudaram.

Desencontros

Quantos rostos desesperados
imploram por um beijo.
Quantos lábios molhados
buscam um rosto para saudar.
Quantos olhares intensos
buscam outros olhos.
Quantos olhos tristes
clamam por um olhar.

Quantas mãos almejam tocarem
suavemente.
Quantos corpos abandonados
sonham com um toque longo e sem fim.
Quantos corações
transbordam de amor e paixão
Quantos outros buscam
um amor profundo e real.

Entanto os rostos desesperados
jamais encontram os lábios molhados.
Os olhares intensos
não vêem os olhos tristes.
As mãos que querem tocar
não encontram os corpos que sonham
com um toque.
Os corações que clamam por migalhas
de amor
não cruzam com os que tem amor
em excesso.

Porque a vida é uma derrota
e o homem é um ser desgraçado
por definição.

Homem
Aproxime mais
quero apresentar-te o homem.
Homem que diz ser humano,
terrivelmente humano.
Ser intelectual,
sapiens em todos os niveis.
Evolução máxima da natureza.
Verdadeiro rei entre os animais.
Ser racional, justo e social.
Eis o homem que te apresento.
Eis o homem que ninguém conhece.
O homem que não existe.

O homem real diante do homem.
Perante a sua própria definição.
Ele é humano, sub-humano.
Tão ingrato, tão volúvel,
tão dissimulado.
Covarde, corrupto e ambicioso.
Cobre-se de uma espessa crosta
de individualidade.
Altamente perigoso.
Predador da própria espécie.
Predador de si mesmo.
Eis o homem que te apresento.
Eis o homem que vês no espelho.
O homem que existe.
Poemas antigos do Leonildo
Estes são alguns poemas da minha fase pessimista. Nada é mais pessimista do que estudar Física na USP. Enfim, coisas do passado.

A quadrilha mudou

João que amava o Raimundo
que amava a Tereza
que amava a Maria
que amava a Lili
que amava o Joaquim
que não amava ninguém.

João sumiu do mapa, depressão.
Raimundo enlouqueceu, estresse.
tereza teve um infarto, pressão.
Maria mudou de sexo, democracia.
Lili morreu de aids, drogas.
e Joaquim se casou com um tal
de Fernando
que não tinha entrado na história.

Veja Drummond,
como os tempos mudaram.

Desencontros

Quantos rostos desesperados
imploram por um beijo.
Quantos lábios molhados
buscam um rosto para saudar.
Quantos olhares intensos
buscam outros olhos.
Quantos olhos tristes
clamam por um olhar.

Quantas mãos almejam tocarem
suavemente.
Quantos corpos abandonados
sonham com um toque longo e sem fim.
Quantos corações
transbordam de amor e paixão
Quantos outros buscam
um amor profundo e real.

Entanto os rostos desesperados
jamais encontram os lábios molhados.
Os olhares intensos
não vêem os olhos tristes.
As mãos que querem tocar
não encontram os corpos que sonham
com um toque.
Os corações que clamam por migalhas
de amor
não cruzam com os que tem amor
em excesso.

Porque a vida é uma derrota
e o homem é um ser desgraçado
por definição.

Homem
Aproxime mais
quero apresentar-te o homem.
Homem que diz ser humano,
terrivelmente humano.
Ser intelectual,
sapiens em todos os niveis.
Evolução máxima da natureza.
Verdadeiro rei entre os animais.
Ser racional, justo e social.
Eis o homem que te apresento.
Eis o homem que ninguém conhece.
O homem que não existe.

O homem real diante do homem.
Perante a sua própria definição.
Ele é humano, sub-humano.
Tão ingrato, tão volúvel,
tão dissimulado.
Covarde, corrupto e ambicioso.
Cobre-se de uma espessa crosta
de individualidade.
Altamente perigoso.
Predador da própria espécie.
Predador de si mesmo.
Eis o homem que te apresento.
Eis o homem que vês no espelho.
O homem que existe.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Estou viajando
Neste momento estou na casa da minha família no Paraná. Resolvi tirar férias de São Paulo, talvez definitiva. Logo, estou mudando a minha base de ação. Aqui estou em território conhecido e entre os meus. Portanto, posso ir além do convencional...

Além disso, vou publicar alguns textos da época em que eu estudava física. Não só textos, mas também poemas...

Enfim, agora posso pensar com mais liberdade e longe da opressão dos grupos dominantes... Minha espada está sendo afiada e cortará com mais precisão...
Estou viajando
Neste momento estou na casa da minha família no Paraná. Resolvi tirar férias de São Paulo, talvez definitiva. Logo, estou mudando a minha base de ação. Aqui estou em território conhecido e entre os meus. Portanto, posso ir além do convencional...

Além disso, vou publicar alguns textos da época em que eu estudava física. Não só textos, mas também poemas...

Enfim, agora posso pensar com mais liberdade e longe da opressão dos grupos dominantes... Minha espada está sendo afiada e cortará com mais precisão...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O problema da lei
Luis Fávio Gomes - Alice Bianchini - O Direito Penal na Era da Globalização
Distingue-se hoje claramente a vigência da validade da lei (Ferrajoli). Nenhum jurista ou estudante pode ignorar a doutrina de que nem toda lei vigente é válida. A lei não esgota o Direito, não é a sua única fonte.

Válida é unicamente a lei que está em consonância (vertical) com a Carta Magna. Isso significa que ela conta com limites não somente formais, senão também materiais.

Todas as vezes que lemos um texto legal, temos que mirá-lo com um olho e com o outro na Constituição, que, com seus princípios e valores superiores, guia toda construção e interpretação do ordenamento jurídico (além de servir de fonte para a elaboração dos princípios político-criminais).

A lei cria direitos, mas também (ela própria) esta submetida ao Direito. Já não lhe basta a legitimidade formal (aprovação pela maioria), senão também a material (adequação aos direitos e garantias fundamentais).

Talvez em nenhum outro momento histórico foi tão importante suspeitar dos mitos rousseaunianos. Acabou, há muito tempo, a sábia lentidão do legislador (que demorava para fazer uma lei, para que ela fosse bem feita).

"La sage lenteur" foi substituída pelo turbilhão legiferante (com freqüência retórico, simbólico e demagógico). Com um legislador "turbinado", bem como com medidas provisórias "ilimitadas" (até porque o Poder Jurídico até hoje se mantém, em regra, conivente com essa anomalia do Poder Político), só poderíamos (mesmo) chegar ao maior caos normativo de que se tem notícia no nosso país.

Temos em vigor cerca de 28000 normas jurídicas. Mais de 10000 leis ordinárias. Milhares de medidas provisórias.

E a confusão aumenta, quando a lei dizia (hoje já não pode, por força da LC95/98): "revogam-se as disposições em sentido contrário."

Em síntese, é a era da descodificação. Nem mesmo os países da Commom Law escaparam dessa avalanche normativa (dos statutes).

De qualquer modo parece importante sublinhar: a consolidação das leis vigentes é uma tarefa necessária, mas absolutamente insuficiente. Pelo menos no âmbito criminal. Contamos hoje no Brasil com mais de 1000 tipos penais.

Há um exagero punitivo. Uma aberrante hipertrofia legislativa.
O problema da lei
Luis Fávio Gomes - Alice Bianchini - O Direito Penal na Era da Globalização
Distingue-se hoje claramente a vigência da validade da lei (Ferrajoli). Nenhum jurista ou estudante pode ignorar a doutrina de que nem toda lei vigente é válida. A lei não esgota o Direito, não é a sua única fonte.

Válida é unicamente a lei que está em consonância (vertical) com a Carta Magna. Isso significa que ela conta com limites não somente formais, senão também materiais.

Todas as vezes que lemos um texto legal, temos que mirá-lo com um olho e com o outro na Constituição, que, com seus princípios e valores superiores, guia toda construção e interpretação do ordenamento jurídico (além de servir de fonte para a elaboração dos princípios político-criminais).

A lei cria direitos, mas também (ela própria) esta submetida ao Direito. Já não lhe basta a legitimidade formal (aprovação pela maioria), senão também a material (adequação aos direitos e garantias fundamentais).

Talvez em nenhum outro momento histórico foi tão importante suspeitar dos mitos rousseaunianos. Acabou, há muito tempo, a sábia lentidão do legislador (que demorava para fazer uma lei, para que ela fosse bem feita).

"La sage lenteur" foi substituída pelo turbilhão legiferante (com freqüência retórico, simbólico e demagógico). Com um legislador "turbinado", bem como com medidas provisórias "ilimitadas" (até porque o Poder Jurídico até hoje se mantém, em regra, conivente com essa anomalia do Poder Político), só poderíamos (mesmo) chegar ao maior caos normativo de que se tem notícia no nosso país.

Temos em vigor cerca de 28000 normas jurídicas. Mais de 10000 leis ordinárias. Milhares de medidas provisórias.

E a confusão aumenta, quando a lei dizia (hoje já não pode, por força da LC95/98): "revogam-se as disposições em sentido contrário."

Em síntese, é a era da descodificação. Nem mesmo os países da Commom Law escaparam dessa avalanche normativa (dos statutes).

De qualquer modo parece importante sublinhar: a consolidação das leis vigentes é uma tarefa necessária, mas absolutamente insuficiente. Pelo menos no âmbito criminal. Contamos hoje no Brasil com mais de 1000 tipos penais.

Há um exagero punitivo. Uma aberrante hipertrofia legislativa.
Grupos de extermínio no Brasil
É lógico que existem grupos de extermínio em São Paulo. É lógico que existem grupos de extermínio no Rio de Janeiro. É lógico que estes grupos não são combatidos. É lógico que as autoridades públicas também estão envolvidas com os grupos de extermínio...

A regra é simples: tem muita coisa que não pode ser feita dentro da lei, principalmente quando a autoridade quer poder ilimitado e é um tirano disfarçado de democrata. Nestes casos usa-se os grupos de extermínio. Os grupos de extermínio geralmente exterminam os desafetos das autoridades públicas. Supostos bandidos incontroláveis que estão presos, etc. Enfim, os grupos de extermínio resolvem o problema que a autoridade quer que sejam resolvidos...

Grupo de extermínio nada mais é do que o braço sujo das autoridades públicas. O BOPE quando sobe o morro é um grupo de extermínio. A ROTA que mata pelas ruas e diz que ataca o PCC é outro grupo de extermínio.

Além disso, o discurso do grupo de extermínio é construído para assustar os líderes sociais das favelas e periferias. Se os líderes sociais começam a fazer exigências de justiça, etc... o grupo de extermínio vai lá e mata e diz que era traficante. Assim, os corruptos continuam dominando, oprimindo, explorando e excluindo. E usando o grupo de extermínio para fazer o serviço sujo que eles precisam...
Grupos de extermínio no Brasil
É lógico que existem grupos de extermínio em São Paulo. É lógico que existem grupos de extermínio no Rio de Janeiro. É lógico que estes grupos não são combatidos. É lógico que as autoridades públicas também estão envolvidas com os grupos de extermínio...

A regra é simples: tem muita coisa que não pode ser feita dentro da lei, principalmente quando a autoridade quer poder ilimitado e é um tirano disfarçado de democrata. Nestes casos usa-se os grupos de extermínio. Os grupos de extermínio geralmente exterminam os desafetos das autoridades públicas. Supostos bandidos incontroláveis que estão presos, etc. Enfim, os grupos de extermínio resolvem o problema que a autoridade quer que sejam resolvidos...

Grupo de extermínio nada mais é do que o braço sujo das autoridades públicas. O BOPE quando sobe o morro é um grupo de extermínio. A ROTA que mata pelas ruas e diz que ataca o PCC é outro grupo de extermínio.

Além disso, o discurso do grupo de extermínio é construído para assustar os líderes sociais das favelas e periferias. Se os líderes sociais começam a fazer exigências de justiça, etc... o grupo de extermínio vai lá e mata e diz que era traficante. Assim, os corruptos continuam dominando, oprimindo, explorando e excluindo. E usando o grupo de extermínio para fazer o serviço sujo que eles precisam...
As prisões
Luis Fávio Gomes - Alice Bianchini - O Direito Penal na Era da Globalização
Sabe-se, entretanto, que nas verdade nela se concentra apenas uma estreita parcela de todas as ilegalidades que o homem 'moderno' pratica. É bem provável que em nenhuma outra época houve tanta corrupção como na era da 'economia globalizada'.

A globalização, aliás, encontra na corrupção um dos seus sinônimos mais expressivos. De qualquer modo, não é essa a ilegalidade que vai causar o encarceramento do criminoso. A prisão, assim, como afirmam os doutrinadores desenha, isola e sublima uma forma de ilegalidade que parece resumir simbolicamente todas as outras, mas que permite deixar na sombra as que se quer ou se deve tolerar.

Em outras palavras, ela "permite diferenciar, arrumar e controlar as ilegalidades" (Foucault). Para as ilegalidades dos de baixo, prisão; para as ilegalidades dos que mandam, compaixão; Fuga para o estrangeiro, prescrição.

Nosso velho discurso professoral de que a prisão é um fracasso na redução dos crimes deveria então ser substituído "pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir (ou reproduzir) a delinqüência."

Aliás, ela, juntamente com todas as demais células do continuum carcerário (Febem, Casas de correção e tantas outras que formam o arquipélago carcerário), é a que melhor reproduz a delinqüência: os altos índices de reincidência facilmente atestam isso.

O grande sucesso da prisão reside exatamente nisto: ela retrata um tipo de 'delinqüência' e assim a isola e dissocia de todas as demais ilegalidades. Quem visita os cárceres do nosso país tem a nítida sensação de que somente os pobres delinqüem.

Concentrando nossa atenção, exclusivamente, nessas ilegalidades que resultam em prisão, os comunicadores sociais - gente da mídia -, a polícia e a justiça (promotores e juízes) integram a funcional engrenagem do exercício sábio do poder. Como não existe uma justiça penal que cuida de todas as ilegalidades, deve-se ver nessa justiça um instrumento para o controle diferencial das ilegalidades.

Os juízes (e os promotores), portanto, se não exercem seu miste com sentido agudamente crítico, acabam transformando-se em meros empregados desse torpe mecanismo de seleção das ilegalidades e de reprodução de uma espécie de delinqüência que é muito útil para determinados e privilegiados segmentos sociais.

A prisão, então, devemos concluir, é deveras um grande sucesso. Mesmo depois de dois séculos de contundentes críticas, ela continua vigorosa (só na última década cresceu no Brasil em mais de 100%). O legislador, em todo momento, cuidando da criminalização primária, dela faz uso (e abuso) contínuo.

Políticos e comunicadores sociais nefastos e inescrupulosos, que banalizam diuturnamente a violência, na medida em que já não necessitam vangloriar a pena de morte, que, em razão da AIDS, é automaticamente a sanção acessória da pena de prisão, louvam-na, particularmente em tempos eleitorais, com a estelionatária tese de sua perpetuidade (prisão perpétua).

Desapareceu ao longo da história o corpo marcado, recortado, queimado, aniquilado; o que veio em seguida foi o corpo e o tempo controlados; agora o que se pretende é a eternização do espetáculo de fabricação de um tipo específico de delinqüência (e de delinqüentes).

Se há um desafio político global em torno da prisão, afirma Foucault, este não é saber se ela será ou não corretiva; se os juízes, os psiquiatras ou os sociólogos exercerão nela mais poder que os administradores e guardas; na verdade ele está na seguinte alternativa: prisão ou algo diferente da prisão.
As prisões
Luis Fávio Gomes - Alice Bianchini - O Direito Penal na Era da Globalização
Sabe-se, entretanto, que nas verdade nela se concentra apenas uma estreita parcela de todas as ilegalidades que o homem 'moderno' pratica. É bem provável que em nenhuma outra época houve tanta corrupção como na era da 'economia globalizada'.

A globalização, aliás, encontra na corrupção um dos seus sinônimos mais expressivos. De qualquer modo, não é essa a ilegalidade que vai causar o encarceramento do criminoso. A prisão, assim, como afirmam os doutrinadores desenha, isola e sublima uma forma de ilegalidade que parece resumir simbolicamente todas as outras, mas que permite deixar na sombra as que se quer ou se deve tolerar.

Em outras palavras, ela "permite diferenciar, arrumar e controlar as ilegalidades" (Foucault). Para as ilegalidades dos de baixo, prisão; para as ilegalidades dos que mandam, compaixão; Fuga para o estrangeiro, prescrição.

Nosso velho discurso professoral de que a prisão é um fracasso na redução dos crimes deveria então ser substituído "pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem produzir (ou reproduzir) a delinqüência."

Aliás, ela, juntamente com todas as demais células do continuum carcerário (Febem, Casas de correção e tantas outras que formam o arquipélago carcerário), é a que melhor reproduz a delinqüência: os altos índices de reincidência facilmente atestam isso.

O grande sucesso da prisão reside exatamente nisto: ela retrata um tipo de 'delinqüência' e assim a isola e dissocia de todas as demais ilegalidades. Quem visita os cárceres do nosso país tem a nítida sensação de que somente os pobres delinqüem.

Concentrando nossa atenção, exclusivamente, nessas ilegalidades que resultam em prisão, os comunicadores sociais - gente da mídia -, a polícia e a justiça (promotores e juízes) integram a funcional engrenagem do exercício sábio do poder. Como não existe uma justiça penal que cuida de todas as ilegalidades, deve-se ver nessa justiça um instrumento para o controle diferencial das ilegalidades.

Os juízes (e os promotores), portanto, se não exercem seu miste com sentido agudamente crítico, acabam transformando-se em meros empregados desse torpe mecanismo de seleção das ilegalidades e de reprodução de uma espécie de delinqüência que é muito útil para determinados e privilegiados segmentos sociais.

A prisão, então, devemos concluir, é deveras um grande sucesso. Mesmo depois de dois séculos de contundentes críticas, ela continua vigorosa (só na última década cresceu no Brasil em mais de 100%). O legislador, em todo momento, cuidando da criminalização primária, dela faz uso (e abuso) contínuo.

Políticos e comunicadores sociais nefastos e inescrupulosos, que banalizam diuturnamente a violência, na medida em que já não necessitam vangloriar a pena de morte, que, em razão da AIDS, é automaticamente a sanção acessória da pena de prisão, louvam-na, particularmente em tempos eleitorais, com a estelionatária tese de sua perpetuidade (prisão perpétua).

Desapareceu ao longo da história o corpo marcado, recortado, queimado, aniquilado; o que veio em seguida foi o corpo e o tempo controlados; agora o que se pretende é a eternização do espetáculo de fabricação de um tipo específico de delinqüência (e de delinqüentes).

Se há um desafio político global em torno da prisão, afirma Foucault, este não é saber se ela será ou não corretiva; se os juízes, os psiquiatras ou os sociólogos exercerão nela mais poder que os administradores e guardas; na verdade ele está na seguinte alternativa: prisão ou algo diferente da prisão.
Prisionização (o choque da explosão carcerária mundial)
Luis Fávio Gomes - Alice Bianchini - O Direito Penal na Era da Globalização
No ano 2000 (segundo a World Prison Population List) a população carcerária mundial era de oito milhões e seiscentas mil pessoas, computando os definitivamente condenados mais os presos cautelares.

O que fazer para evitar o massivo encarceramento ?
1- Restringir o máximo possível o uso da prisão cautelar;
2- Reduzir a pena máxima de cada crime;
3- Criar penas ou medidas alternativas como "probation" ou prestação de serviços à comunidade (community service);
4- Estabelecer benefícios prisionais, como a liberdade condicional.

A redução do número de prisioneiros é uma tarefa urgente todos os países porque está absolutamente comprovado que as prisões são:
1- As universidades do crime (universities of crime);
2- A maneira mais cara de se fazer as pessoas piorarem (expensive way of making bad people worse).

Todos os países latino-americanos apresentam super-população carcerária (no caso do Brasil esse índice chega a quase 100% - leia-se: o número de vagas não comporta a atual população carcerária, o que implica que em lugar de um temos dois presos).

A situação carcerária do nosso entorno geográfico é de indescritível horror e já se fala em verdadeiro genocídio carcerário. As regras da ONU mandam que durante o período noturno o preso fique isolado. Isso não se cumpre em praticamente nenhuma prisão no nosso país.

A psicologia experimental já comprovou que muitas pessoas em pouco espaço físico constitui situação que gera violência e agressividade, perda da intimidade, da privacidade, etc. Isso significa que todos as penas de prisão no nosso País estão sendo cumpridas de modo cruel, desumano e degradante (o que conflita com a CF. art. 5, inc. III).

Os números até poderiam ser ainda maiores, não fosse o fato de que mais ou menos 300.000 mandados de prisão expedidos deixam de ser cumpridos.

A pena de prisão, afinal, constitui um fracasso ou um sucesso ?

O discurso jurídico-penal (leia-se: o discurso dos professores das Ciências Penais) tende a mostrar as prisões como um retumbante fracasso (não ressocializa, embrutece, piora a pessoa, etc). Isso, aliás, é o que é ensinado nas nossas faculdades (e, provavelmente, será o discurso da maioria dos futuros bacharéis).

Mudando de perspectiva e enfocando-se as prisões como microcélulas do exercício do "poder disciplinar" e do "saber", chegaremos, seguramente, a uma outra conclusão: "a prisão, ao aparentemente fracassar, não erra seu objetivo; ao contrário, ela o atinge na medida em que suscita no meio das outras uma forma particular de ilegalidade, que ela permite separar, pôr em plena luz e organizar como um meio relativamente fechado, mas penetrável."

A história da prisão não é a de sua progressiva abolição, senão a de sua reforma. É um mal necessário, apesar das contradições insolúveis. Tendo em vista que dela ainda não podemos dispor, pelo menos devemos lutar pela sua progressiva humanização. E sempre que possível deve ser substituída.

Tudo isso porque, dois séculos depois do seu acolhimento geral, constatou-se sua absoluta falência em termos de prevenção. Recomenda-se, em conseqüência, que as penas privativas de liberdade limitem-se às penas de média ou longa duração e àqueles condenados efetivamente perigosos e de difícil recuperação e desde que tenham praticado fatos indiscutivelmente perturbadores da convivência em sociedade. Assim deve ser porque a prisão avilta, desmoraliza, denigre e embrutece o apenado.

Reconhecemos que a prisão é uma realidade absolutamente inconstitucional, visto que, pelo Texto Maior: ninguém será (ou deveria ser) submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante (CF. Art. 5, inc. III). Aliás, o mesmo diploma constitucional proíbe as penas cruéis (inc. XLVII, e), assinala que "a pena será cumprida em estabelecimento distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado" e assegura aos presos "o respeito à integridade física e moral."

É uma triste realidade que, ademais, conflita frontalmente com o chamado Direito Humanitário Internacional. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a propósito, em art. V, afirma que "Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamentos ou punições cruéis, desumanos, ou degradantes".

Do mesmo modo, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966) afirma que "toda pessoa privada da sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e com respeito à dignidade inerente à pessoa humana".

A ONU, que tem a pessoa humana como seu eixo fundamental de preocupação, na medida em que não se consegue eliminar a prisão, há tempos vem dedicando sua atenção ao encarcerado. E não é para menos, porque se sabe que a prisão, como resultado final do exercício do poder punitivo, como factum que é, constitui uma sementeira de arbitrariedades, de violência e corrupção.

Considerando-se que para a prisão mandamos quase exclusivamente "os da última fileira social", reafirma-se a generalizada (e equivocada) concepção de "que o crime não é uma virtualidade que o interesse ou s paixões introduziram no coração de todos os homens, mas que é coisa quase exclusiva de uma certa classe social." Crime é algo da "raça bastarda", da classe degradada, dos miseráveis, dos viciados e marginalizados.

O positivismo criminológico de Lombroso, criador da figura do criminoso nato, reafirmou essa concepção e, desse modo, deu nascimento ao que poderíamos chamar de Direito Penal Estético ou racista.

Lombroso visitou cárceres, examinou seus habitantes (cerca de 25.000) e concluiu: "os mais feios são indiscutivelmente os que deliqüem". A prisão, em síntese, cumpre bem esse papel de retransmitir a idéia de que o crime pertence às classe baixas.
Prisionização (o choque da explosão carcerária mundial)
Luis Fávio Gomes - Alice Bianchini - O Direito Penal na Era da Globalização
No ano 2000 (segundo a World Prison Population List) a população carcerária mundial era de oito milhões e seiscentas mil pessoas, computando os definitivamente condenados mais os presos cautelares.

O que fazer para evitar o massivo encarceramento ?
1- Restringir o máximo possível o uso da prisão cautelar;
2- Reduzir a pena máxima de cada crime;
3- Criar penas ou medidas alternativas como "probation" ou prestação de serviços à comunidade (community service);
4- Estabelecer benefícios prisionais, como a liberdade condicional.

A redução do número de prisioneiros é uma tarefa urgente todos os países porque está absolutamente comprovado que as prisões são:
1- As universidades do crime (universities of crime);
2- A maneira mais cara de se fazer as pessoas piorarem (expensive way of making bad people worse).

Todos os países latino-americanos apresentam super-população carcerária (no caso do Brasil esse índice chega a quase 100% - leia-se: o número de vagas não comporta a atual população carcerária, o que implica que em lugar de um temos dois presos).

A situação carcerária do nosso entorno geográfico é de indescritível horror e já se fala em verdadeiro genocídio carcerário. As regras da ONU mandam que durante o período noturno o preso fique isolado. Isso não se cumpre em praticamente nenhuma prisão no nosso país.

A psicologia experimental já comprovou que muitas pessoas em pouco espaço físico constitui situação que gera violência e agressividade, perda da intimidade, da privacidade, etc. Isso significa que todos as penas de prisão no nosso País estão sendo cumpridas de modo cruel, desumano e degradante (o que conflita com a CF. art. 5, inc. III).

Os números até poderiam ser ainda maiores, não fosse o fato de que mais ou menos 300.000 mandados de prisão expedidos deixam de ser cumpridos.

A pena de prisão, afinal, constitui um fracasso ou um sucesso ?

O discurso jurídico-penal (leia-se: o discurso dos professores das Ciências Penais) tende a mostrar as prisões como um retumbante fracasso (não ressocializa, embrutece, piora a pessoa, etc). Isso, aliás, é o que é ensinado nas nossas faculdades (e, provavelmente, será o discurso da maioria dos futuros bacharéis).

Mudando de perspectiva e enfocando-se as prisões como microcélulas do exercício do "poder disciplinar" e do "saber", chegaremos, seguramente, a uma outra conclusão: "a prisão, ao aparentemente fracassar, não erra seu objetivo; ao contrário, ela o atinge na medida em que suscita no meio das outras uma forma particular de ilegalidade, que ela permite separar, pôr em plena luz e organizar como um meio relativamente fechado, mas penetrável."

A história da prisão não é a de sua progressiva abolição, senão a de sua reforma. É um mal necessário, apesar das contradições insolúveis. Tendo em vista que dela ainda não podemos dispor, pelo menos devemos lutar pela sua progressiva humanização. E sempre que possível deve ser substituída.

Tudo isso porque, dois séculos depois do seu acolhimento geral, constatou-se sua absoluta falência em termos de prevenção. Recomenda-se, em conseqüência, que as penas privativas de liberdade limitem-se às penas de média ou longa duração e àqueles condenados efetivamente perigosos e de difícil recuperação e desde que tenham praticado fatos indiscutivelmente perturbadores da convivência em sociedade. Assim deve ser porque a prisão avilta, desmoraliza, denigre e embrutece o apenado.

Reconhecemos que a prisão é uma realidade absolutamente inconstitucional, visto que, pelo Texto Maior: ninguém será (ou deveria ser) submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante (CF. Art. 5, inc. III). Aliás, o mesmo diploma constitucional proíbe as penas cruéis (inc. XLVII, e), assinala que "a pena será cumprida em estabelecimento distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado" e assegura aos presos "o respeito à integridade física e moral."

É uma triste realidade que, ademais, conflita frontalmente com o chamado Direito Humanitário Internacional. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a propósito, em art. V, afirma que "Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamentos ou punições cruéis, desumanos, ou degradantes".

Do mesmo modo, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966) afirma que "toda pessoa privada da sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e com respeito à dignidade inerente à pessoa humana".

A ONU, que tem a pessoa humana como seu eixo fundamental de preocupação, na medida em que não se consegue eliminar a prisão, há tempos vem dedicando sua atenção ao encarcerado. E não é para menos, porque se sabe que a prisão, como resultado final do exercício do poder punitivo, como factum que é, constitui uma sementeira de arbitrariedades, de violência e corrupção.

Considerando-se que para a prisão mandamos quase exclusivamente "os da última fileira social", reafirma-se a generalizada (e equivocada) concepção de "que o crime não é uma virtualidade que o interesse ou s paixões introduziram no coração de todos os homens, mas que é coisa quase exclusiva de uma certa classe social." Crime é algo da "raça bastarda", da classe degradada, dos miseráveis, dos viciados e marginalizados.

O positivismo criminológico de Lombroso, criador da figura do criminoso nato, reafirmou essa concepção e, desse modo, deu nascimento ao que poderíamos chamar de Direito Penal Estético ou racista.

Lombroso visitou cárceres, examinou seus habitantes (cerca de 25.000) e concluiu: "os mais feios são indiscutivelmente os que deliqüem". A prisão, em síntese, cumpre bem esse papel de retransmitir a idéia de que o crime pertence às classe baixas.
É hora de radicalizar
Eu estava pensando em parar as disciplinas que faria na Universidade neste semestre e ir desenvolver a minha pesquisa no Paraná. Mas decidi que não vou fazer isto. Vou radicalizar as minhas ações e passar caminhar para a violência aberta.

Por exemplo, noite após noite, um elemento tem jogado fumaça de entorpecente dentro do meu quarto. Já reclamei para a USP e a Universidade não fez nada. Logo, eu terei que dar um jeito no elemento... Vou pegá-lo em flagrante e levá-lo para a polícia... A legítima defesa está na lei. Para defender a própria vida, você pode, inclusive, matar o inimigo que está te atacando.

Já percebi que os indivíduos que estão me atacando mais abertamente, inclusive este que joga entorpecente no meu quarto, assim como aqueles que estão sabotando os trabalhos e projetos possuem uma raiz comum. São tucanos. São do PSDB. Inclusive um deles tem ligação direta com o FHC. Mero acaso ? Coincidência ?

Acaso e coincidência são explicações para tolos e idiotas. É lógico que os tucanos estão por trás disso. É lógico que a polícia dos tucanos está envolvida nisso. A USP está nas mãos dos tucanos. Professores tucanos estão por todas as partes fazendo tudo para prejudicar as pessoas que tem ligações com outros partidos ou que defendem outras idéias. É uma politização velada das instituições públicas. Lembra da Carta do Pinotti para a Reitora que eu publiquei, pois é, aquilo mostra a ligação íntima da máfia...

A minha idéia era ir para o sul e começar o levante lá. O sul tem tradição em levante, principalmente para derrubar política do café com leite. Talvez seja necessário um segundo levante para pôr fim à segunda instituição do café com leite. Lá tem gente disposta a partir pra cima. E, a partir de lá, posso começar a arregimentar as favelas e as periferias de todas as demais regiões. Porém, tudo tem que ser escrito e detalhado antecipadamente. Teremos que ter uma cartilha, um mal de instrução da revolução. Isto tirará a importância dos líderes e qualquer um que tenha a cartilha, sabendo os objetivos, poderá agir.

Porém, vou até minha casa deixar uma lista de nomes para, caso caia uma raio na minha cabeça, eles saberem por onde começar a sangria... Certamente, vou precisar de ferramentas extras. para me defender... Enfim, caminhamos, inegavelmente, numa linha de radicalismo.

O que será que estes elementos pensam ? Sabotando a ONG que eu estava construindo e os projetos sociais que eu estava desenvolvendo, vocês ganharão, inevitavelmente, um grupo extremista radical. Não só vou construí-lo como posso ligá-lo a grupos extremistas internacionais. Eu sei onde estão os contatos e sei como negociar com eles, não só com eles, mas com todas as redes do submundo que tem por aí...

Se vocês estão achando que eu desisto de minhas idéias ou me dobro a suas sabotagens, pode retirar o cavalinho da chuva. As mudanças serão feitas, se não podem ser pacíficas, serão violentas... Se terá que morrer uma centenas ou milhares de pessoas para que as mudanças sejam produzidas, isto será feito. Se a porta não se abre, nós vamos explodi-la...

Agora, prestem bem atenção, prestem muita atenção, as ações não serão dirigidas contra civis ou contra pessoas sem muita importância para o sistema... As ações serão direcionadas contra os operadores do sistema. São eles que impedem as mudanças, dominam, oprimem e exploram. São eles que sabotam os projetos e paralisam as ações sociais. São eles que nós queremos. E podemos pegá-los facilmente...

Propaganda pelo fato... Estes eram os métodos dos anarquistas russos. E isto dá muito resultado, principalmente, para atrair as pessoas para a luta...

E não se enganem... Eu sou a ala boa da coisa, pois tenho um acurado senso de ordem, democracia, justiça e de obediência ao Direito Natural. Conheço gente que também está na luta e que não pensa desta forma, inclusive fala em queimar os operadores do sistema com um maçarico... Gente que não hesitaria nenhum pouco em colocar carros-bomba nas áreas públicas freqüentadas por civis da classe dominante... O ódio contra a elite é muito grande e cresce dia após dia.
É hora de radicalizar
Eu estava pensando em parar as disciplinas que faria na Universidade neste semestre e ir desenvolver a minha pesquisa no Paraná. Mas decidi que não vou fazer isto. Vou radicalizar as minhas ações e passar caminhar para a violência aberta.

Por exemplo, noite após noite, um elemento tem jogado fumaça de entorpecente dentro do meu quarto. Já reclamei para a USP e a Universidade não fez nada. Logo, eu terei que dar um jeito no elemento... Vou pegá-lo em flagrante e levá-lo para a polícia... A legítima defesa está na lei. Para defender a própria vida, você pode, inclusive, matar o inimigo que está te atacando.

Já percebi que os indivíduos que estão me atacando mais abertamente, inclusive este que joga entorpecente no meu quarto, assim como aqueles que estão sabotando os trabalhos e projetos possuem uma raiz comum. São tucanos. São do PSDB. Inclusive um deles tem ligação direta com o FHC. Mero acaso ? Coincidência ?

Acaso e coincidência são explicações para tolos e idiotas. É lógico que os tucanos estão por trás disso. É lógico que a polícia dos tucanos está envolvida nisso. A USP está nas mãos dos tucanos. Professores tucanos estão por todas as partes fazendo tudo para prejudicar as pessoas que tem ligações com outros partidos ou que defendem outras idéias. É uma politização velada das instituições públicas. Lembra da Carta do Pinotti para a Reitora que eu publiquei, pois é, aquilo mostra a ligação íntima da máfia...

A minha idéia era ir para o sul e começar o levante lá. O sul tem tradição em levante, principalmente para derrubar política do café com leite. Talvez seja necessário um segundo levante para pôr fim à segunda instituição do café com leite. Lá tem gente disposta a partir pra cima. E, a partir de lá, posso começar a arregimentar as favelas e as periferias de todas as demais regiões. Porém, tudo tem que ser escrito e detalhado antecipadamente. Teremos que ter uma cartilha, um mal de instrução da revolução. Isto tirará a importância dos líderes e qualquer um que tenha a cartilha, sabendo os objetivos, poderá agir.

Porém, vou até minha casa deixar uma lista de nomes para, caso caia uma raio na minha cabeça, eles saberem por onde começar a sangria... Certamente, vou precisar de ferramentas extras. para me defender... Enfim, caminhamos, inegavelmente, numa linha de radicalismo.

O que será que estes elementos pensam ? Sabotando a ONG que eu estava construindo e os projetos sociais que eu estava desenvolvendo, vocês ganharão, inevitavelmente, um grupo extremista radical. Não só vou construí-lo como posso ligá-lo a grupos extremistas internacionais. Eu sei onde estão os contatos e sei como negociar com eles, não só com eles, mas com todas as redes do submundo que tem por aí...

Se vocês estão achando que eu desisto de minhas idéias ou me dobro a suas sabotagens, pode retirar o cavalinho da chuva. As mudanças serão feitas, se não podem ser pacíficas, serão violentas... Se terá que morrer uma centenas ou milhares de pessoas para que as mudanças sejam produzidas, isto será feito. Se a porta não se abre, nós vamos explodi-la...

Agora, prestem bem atenção, prestem muita atenção, as ações não serão dirigidas contra civis ou contra pessoas sem muita importância para o sistema... As ações serão direcionadas contra os operadores do sistema. São eles que impedem as mudanças, dominam, oprimem e exploram. São eles que sabotam os projetos e paralisam as ações sociais. São eles que nós queremos. E podemos pegá-los facilmente...

Propaganda pelo fato... Estes eram os métodos dos anarquistas russos. E isto dá muito resultado, principalmente, para atrair as pessoas para a luta...

E não se enganem... Eu sou a ala boa da coisa, pois tenho um acurado senso de ordem, democracia, justiça e de obediência ao Direito Natural. Conheço gente que também está na luta e que não pensa desta forma, inclusive fala em queimar os operadores do sistema com um maçarico... Gente que não hesitaria nenhum pouco em colocar carros-bomba nas áreas públicas freqüentadas por civis da classe dominante... O ódio contra a elite é muito grande e cresce dia após dia.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Ética dos grandes sábios
"Uma história do Povo Judeu" - Autor: Hans Borger - Editora: Sêfer Ltda - 1999.
Além de "árvore genealógica da tradição", os Pirké Avót exemplificam o ensinamento de grandes sábios através de algumas de suas "plataformas" características. Por exemplo:
-- Servir sem esperar recompensa (Antígono);
-- Seja sua casa um lugar de reunião de sábios (José ben Ioezer);
-- Afasta-te de má companhia (Nitai);
-- Ama o trabalho e não procures o favor dos governos (Shemaia);
-- Não julgues o teu próximo até que te encontres na sua situação e não te apartes da comunidade (Hilel);
-- Fala pouco e faz muito (Shamai);
-- Arranja um mestre para dirimir dúvidas (Raban Gamaliel);
-- Estudar a Lei não basta, é preciso praticá-la (Simeon ben Gamaliel);
-- O mundo mantém-se pela verdade, pela paz e pela justiça (Simeon ben Gamaliel);
-- A convivência com ignorantes abrevia a vida (Dossá);
-- Tudo está previsto, mas o homem tem livre-arbítrio (Akiva);
-- Onde não há pão não há lei e sem lei não há pão (Eleazar ben Azariá).
--------------------
Um certo dia, enquanto estava caminhando pela estrada, rabi Iochanan viu um homem plantando uma alfarrobeira. E ele perguntou-lhe: "Quanto tempo vai levar para esta árvore dar frutos ?" "Setenta anos", o homem respondeu. "E tens certeza que ainda viverás setenta anos para comer dos seus frutos ?" Ao que o homem retrucou: "Eu encontrei este mundo cheio de alfarrobeiras plenamente crescidas; assim como os meus antepassados plantaram para mim, eu estou plantando para meus filhos." (Bialik 203.7; B.Ta 23a)
Ética dos grandes sábios
"Uma história do Povo Judeu" - Autor: Hans Borger - Editora: Sêfer Ltda - 1999.
Além de "árvore genealógica da tradição", os Pirké Avót exemplificam o ensinamento de grandes sábios através de algumas de suas "plataformas" características. Por exemplo:
-- Servir sem esperar recompensa (Antígono);
-- Seja sua casa um lugar de reunião de sábios (José ben Ioezer);
-- Afasta-te de má companhia (Nitai);
-- Ama o trabalho e não procures o favor dos governos (Shemaia);
-- Não julgues o teu próximo até que te encontres na sua situação e não te apartes da comunidade (Hilel);
-- Fala pouco e faz muito (Shamai);
-- Arranja um mestre para dirimir dúvidas (Raban Gamaliel);
-- Estudar a Lei não basta, é preciso praticá-la (Simeon ben Gamaliel);
-- O mundo mantém-se pela verdade, pela paz e pela justiça (Simeon ben Gamaliel);
-- A convivência com ignorantes abrevia a vida (Dossá);
-- Tudo está previsto, mas o homem tem livre-arbítrio (Akiva);
-- Onde não há pão não há lei e sem lei não há pão (Eleazar ben Azariá).
--------------------
Um certo dia, enquanto estava caminhando pela estrada, rabi Iochanan viu um homem plantando uma alfarrobeira. E ele perguntou-lhe: "Quanto tempo vai levar para esta árvore dar frutos ?" "Setenta anos", o homem respondeu. "E tens certeza que ainda viverás setenta anos para comer dos seus frutos ?" Ao que o homem retrucou: "Eu encontrei este mundo cheio de alfarrobeiras plenamente crescidas; assim como os meus antepassados plantaram para mim, eu estou plantando para meus filhos." (Bialik 203.7; B.Ta 23a)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Se a Revolução de 32 fosse hoje
Se a Revolução de 1932 fosse hoje, quantos acadêmicos da Faculdade de Direito da USP iriam para a luta ? Muitos ou só o Leonildo ? E os Professores, eles estariam dispostos a lutar por uma causa ou não iriam querer deixar seus escritórios recheados com casos milionários ? Se a Revolução de 32 fosse hoje, poucos ousariam lutar. A maioria preferiria ficar em casa, assistindo novela.

Inclusive, eu recomendaria ao Diretor da Faculdade de Direito da USP que cobrisse, com um pano preto, o monumento dedicado aos estudantes que morreram lutando na Revolução. E que esse pano só fosse retirado quando a Faculdade recuperasse o espírito revolucionário, o compromisso com a coletividade e com a justiça, que existiram outrora. Hoje este monumento é uma vergonha para a instituição, pois ele lembra uma categoria de pessoas que a Faculdade faz questão de excluir, calar e exterminar.

Parece-me que a covardia aumenta com o tempo e com as gerações. O conformismo se alastra como erva daninha. E a estupidez cresce exponencialmente.Inegavelmente, estamos diante de uma massa de pessoas atomizadas e indiferentes. Uma massa de medíocres que passam/passarão pela história sem deixar rastro e nem vestígio. Passam/passarão pela história sem modificar nada, mantendo tudo como era antes de chegarem.

Perdoe-me, Tobias Barreto, mas os dias atuais obrigam-me a reescrever os seus versos:
Quando se sente bater /
no peito heróica pancada /
Deixa-se a folha dobrada /
Enquanto se vai ao Cardiologista.
Gente do Largo São Francisco não deixa mais a folha dobrada para ir morrer na Revolução. Eles deixam a folha dobrada para ir ao cardiologista, fazer exame do coração. O stress ocasionado pela profissão de operadores do sistema de dominação e opressão é muito grande...

A minha pergunta é só uma: no que vocês se transformaram ? Olhem bem no espelho e vejam no que vocês se transformaram... De quem é a culpa ?
Se a Revolução de 32 fosse hoje
Se a Revolução de 1932 fosse hoje, quantos acadêmicos da Faculdade de Direito da USP iriam para a luta ? Muitos ou só o Leonildo ? E os Professores, eles estariam dispostos a lutar por uma causa ou não iriam querer deixar seus escritórios recheados com casos milionários ? Se a Revolução de 32 fosse hoje, poucos ousariam lutar. A maioria preferiria ficar em casa, assistindo novela.

Inclusive, eu recomendaria ao Diretor da Faculdade de Direito da USP que cobrisse, com um pano preto, o monumento dedicado aos estudantes que morreram lutando na Revolução. E que esse pano só fosse retirado quando a Faculdade recuperasse o espírito revolucionário, o compromisso com a coletividade e com a justiça, que existiram outrora. Hoje este monumento é uma vergonha para a instituição, pois ele lembra uma categoria de pessoas que a Faculdade faz questão de excluir, calar e exterminar.

Parece-me que a covardia aumenta com o tempo e com as gerações. O conformismo se alastra como erva daninha. E a estupidez cresce exponencialmente.Inegavelmente, estamos diante de uma massa de pessoas atomizadas e indiferentes. Uma massa de medíocres que passam/passarão pela história sem deixar rastro e nem vestígio. Passam/passarão pela história sem modificar nada, mantendo tudo como era antes de chegarem.

Perdoe-me, Tobias Barreto, mas os dias atuais obrigam-me a reescrever os seus versos:
Quando se sente bater /
no peito heróica pancada /
Deixa-se a folha dobrada /
Enquanto se vai ao Cardiologista.
Gente do Largo São Francisco não deixa mais a folha dobrada para ir morrer na Revolução. Eles deixam a folha dobrada para ir ao cardiologista, fazer exame do coração. O stress ocasionado pela profissão de operadores do sistema de dominação e opressão é muito grande...

A minha pergunta é só uma: no que vocês se transformaram ? Olhem bem no espelho e vejam no que vocês se transformaram... De quem é a culpa ?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O PÃO NOSSO
Herbert de Souza
(Reflexões para o futuro, Edição Veja 25 anos, São Paulo: Abril)

*** Com a força de quem incomoda pela simplicidade de seus argumentos, o sociólogo mineiro desmonta qualquer desculpa para não encarar a fome no Brasil. Tratamos 32 milhões de pobres - uma Argentina inteira -como estrangeiros, inimigos. ***

Há quase quarenta anos, eu começava minha trajetória de esquerda cristã,para depois percorrer todos os caminhos e desvios do marxismo, do leninismo e do maoísmo, quando publiquei meu primeiro artigo, na revista francesa "Témoignage Chrétien". chamei-o "Capitalismo e Miséria". Era 1956 e naquele tempo a luta contra o capitalismo inspirava-se numa ética humanista,que não aceitava a miséria. Ser de esquerda era isso.

Ao longo dos anos, as razões para lutar contra o capitalismo foram aumentando, a ética foi cedendo espaço para a ideologia. Lutar contra a miséria passou a ser um subproduto da luta pelo socialismo. No futuro o socialismo acabaria com a miséria, ao fim de um período de convivência inevitável. Restava, como forma de ação, denunciar a responsabilidade do capitalismo na produção da miséria. Mas a convivência acabou por gerar um inconformismo verbal e um conformismo prático.

O mundo deu muitas voltas. Caíram barreiras, referências, mitos e muros. A História não coube em teorias. As teorias negaram suas promessas. O capitalismo continuou produzindo miséria, mas o socialismo avançou sem conseguir eliminá-la.Os sistemas protegiam seus sócios e eliminavam os demais. Depois de 100 anos de socialismo e capitalismo, a miséria no mundo aumentou, a economia transformou-se num código de brancos e numa fábrica de exclusão racionalizada. A modernidade produziu um mundo menor do que a humanidade. Sobram bilhões de pessoas. Não se previu espaço para elas nos vários projetos internacionais e nacionais. No Brasil essa exclusão tem raízes seculares. De um lado, senhores, proprietários, doutores. Do outro, índios, escravos, trabalhadores, pobres.

Isso significa produzir riqueza pela produção da pobreza. Sendo um modelo econômico sustentado em vícios sociais, o padrão rural da colônia transferiu-se praticamente intacto ao país urbano, com pretensões a ser moderno. O Brasil tem uma indústria com duas caras - e a mesma moeda. Moderna na tecnologia, atrasada nas relações de trabalho. Sua classe média espreme-se entre a ideologia do senhor e as agruras dos pobres. Teme o destino de um e respeita o poder do outro.

A industrialização brasileira não encurtou o abismo entre pobres e ricos. Os senhores viraram empresários, mas continuaram a viver em novas versões da casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas continuaram morando na senzala, em dormitórios feitos para isolar o pobre depois do serviço.

Nos anos 90, aprendemos que, em sessenta anos de industrialização, o Brasil havia gerado três categorias sociais - ricos, pobres e indigentes. É como se elas habitassem países diferentes. Existe a minoria rica, branca, sofisticada, formando uma sociedade mais ou menos comparável à do Canadá. Tem a maioria pobre, negra, silenciosa e resignada, do tamanho do México. E há 32 milhões de indigentes, uma Argentina dentro do Brasil.Esses 32 milhões são brasileiros que o Brasil trata como estrangeiros,uma população indesejada, descurada, quase inimiga.

Este Brasil onde aparentemente não cabem os 150 milhões de habitantes das estatísticas demográficas é assim por descaso. Com a produção agrícola atual, poderia alimentar 300 milhões de pessoas. Nada, em sua economia,impede que sejam gerados agora 9 milhões de empregos de emergência. Se a posse da terra fosse democratizada de maneira rápida e decidida, abriria lugar para 12 milhões de famílias. Se as coisas assim acontecessem, 32 milhões de pessoas que estão passando fome teriam comida, pelo menos comida.

Ser de esquerda é ter pressa de chegar ao futuro. Mas como projetar o futuro no quadro trágico do Brasil de hoje? Os indigentes indicam a rota de um grande naufrágio social, de uma farsa econômica e de um desastre político. Fome, miséria e Aids vão disputar as manchetes da imprensa internacional sobre o país. Fome e miséria porque as produzimos há muito tempo. Aids porque tem, aqui, a mesma cara da miséria. A minoria rica trata-se, os pobres simplesmente morrem.

Projetar o futuro é temer ou desejar. Prever também pode ser identificar os desejos e interesses existentes agora, é reconhecer a possibilidade de que os melhores desejos sejam os desejos dominantes e com isso se transformem na realidade. Pensar o futuro atrai, desafia e engana. E mudar o futuro depende de mudar a maneira como se pensa o presente. O futuro começa hoje. Num passado recente, quando o sindicalismo parecia inteiramente domado pela repressão militar, as greves no ABC paulista desafiaram a imaginação dos sociólogos e a força policial do governo. No passado ainda mais recente, as campanhas da anistia, das eleições diretas, da Constituinte, do impeachment de Collor - todas elas mostraram o poder que tem o desejo de mudar a realidade.

Não faltam argumentos para quem imagina o futuro como o presente piorado. Se o modelo "Casa Grande & Senzala" prevalecer, não haverá outro recurso senão viver numa prisão de ruas fechadas por seguranças privadas, em "bunkers" residenciais. Nesse caso, o futuro brasileiro terá, pelo cinismo e pela indiferença, a sociedade que a África do Sul fez no passado pelo racismo e pela violência.

E o outro lado? E se o futuro depender da explosão social dos oprimidos? Aí é provável que o sistema atual também prevaleça. Não é à toa que ele tem antecedentes históricos.Sempre que preciso, a polícia torturou e matou, as Forças Armadas reprimiram sublevações contra a ordem da classe dominante, as Igrejas ensinaram resignação em vez de horror à injustiça. Deus alegrava a vida dos ricos. O diabo metia medo nos pobres. O brasileiro cordial,produto desse método, é aquele cidadão que ganha salário mínimo e brinca o Carnaval com alegria de fazer inveja ao turista. O Rio de Janeiro não é Los Angeles.

Pode haver revolta. Mas é improvável que seja o caminho da mudança no Brasil. Ela não corre, mas anda. Não corre, mas ocorre.

Seus sinais estão, por exemplo, no melhoramento das cidades em plena crise da administração federal, no basta à corrupção e no movimento pela ética na política, na emergência de movimentos em favor da mulher, da criança ou na ecologia, no anti-racismo. São antídotos contra a cultura autoritária que sempre ditou a receita do desastre social. Eles estão na confluência de duas tendências. Parte da elite não quer viver no apartheid sul-africano. E cada vez mais pobres querem sua cota de cidadania. Essa maré vai empurrando a democracia da sociedade para o Estado, de baixo para cima, dos movimentos sociais para os partidos e instituições políticas.

É nela que eu hoje acredito. E, por causa dela, encontro-me outra vez com a velha questão que me levou à militância política: o que fazer com a miséria? Aceitá-la a título provisório? não dá; aquilo que produz miséria simplesmente não pode ser aceito. A condenação ética da miséria passou a ser a luta contra a miséria para conquistar a democracia.

É preciso começar pela miséria. Essa é a energia da mudança que move a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, revelada na adesão de pessoas de todas as classes sociais, idades, tendências políticas e religiosas, parlamentares e prefeitos, empresas públicas e privadas , artistas e meios de comunicação e, sobretudo, na adesão de jovens à tarefa de recolher e distribuir alimento. Essa juventude está descobrindo o gosto de romper o círculo de giz da solidão e abrir o espaço fecundo da solidariedade. Esse mesmo gosto que há quarenta anos se reservava à militância.

No combate à fome há o germe da mudança do país. Começa por rejeitar o que era tido como inevitável. Todos podem e devem comer, trabalhar e obter uma renda digna, ter escola, saúde, saneamento básico, educação, acesso à cultura. Ninguém deve viver na miséria. Todos têm direito à vida digna, à cidadania. A sociedade existe para isso. Ou, então, ela simplesmente não presta para nada. O Estado só tem sentido se é um instrumento dessas garantias. A política, os partidos, as instituições, as leis só servem para isso. Fora disso, só existe a presença do passado no presente, projetando no futuro o fracasso de mais uma geração.

Quando eu era cristão e queria lutar contra a miséria, meu dia começava com um Padre-Nosso. Tinha fome de divindade. Hoje, ainda luto contra a miséria, mas meu dia começa com um Pão Nosso. Tenho fome de humanidade.
O PÃO NOSSO
Herbert de Souza
(Reflexões para o futuro, Edição Veja 25 anos, São Paulo: Abril)

*** Com a força de quem incomoda pela simplicidade de seus argumentos, o sociólogo mineiro desmonta qualquer desculpa para não encarar a fome no Brasil. Tratamos 32 milhões de pobres - uma Argentina inteira -como estrangeiros, inimigos. ***

Há quase quarenta anos, eu começava minha trajetória de esquerda cristã,para depois percorrer todos os caminhos e desvios do marxismo, do leninismo e do maoísmo, quando publiquei meu primeiro artigo, na revista francesa "Témoignage Chrétien". chamei-o "Capitalismo e Miséria". Era 1956 e naquele tempo a luta contra o capitalismo inspirava-se numa ética humanista,que não aceitava a miséria. Ser de esquerda era isso.

Ao longo dos anos, as razões para lutar contra o capitalismo foram aumentando, a ética foi cedendo espaço para a ideologia. Lutar contra a miséria passou a ser um subproduto da luta pelo socialismo. No futuro o socialismo acabaria com a miséria, ao fim de um período de convivência inevitável. Restava, como forma de ação, denunciar a responsabilidade do capitalismo na produção da miséria. Mas a convivência acabou por gerar um inconformismo verbal e um conformismo prático.

O mundo deu muitas voltas. Caíram barreiras, referências, mitos e muros. A História não coube em teorias. As teorias negaram suas promessas. O capitalismo continuou produzindo miséria, mas o socialismo avançou sem conseguir eliminá-la.Os sistemas protegiam seus sócios e eliminavam os demais. Depois de 100 anos de socialismo e capitalismo, a miséria no mundo aumentou, a economia transformou-se num código de brancos e numa fábrica de exclusão racionalizada. A modernidade produziu um mundo menor do que a humanidade. Sobram bilhões de pessoas. Não se previu espaço para elas nos vários projetos internacionais e nacionais. No Brasil essa exclusão tem raízes seculares. De um lado, senhores, proprietários, doutores. Do outro, índios, escravos, trabalhadores, pobres.

Isso significa produzir riqueza pela produção da pobreza. Sendo um modelo econômico sustentado em vícios sociais, o padrão rural da colônia transferiu-se praticamente intacto ao país urbano, com pretensões a ser moderno. O Brasil tem uma indústria com duas caras - e a mesma moeda. Moderna na tecnologia, atrasada nas relações de trabalho. Sua classe média espreme-se entre a ideologia do senhor e as agruras dos pobres. Teme o destino de um e respeita o poder do outro.

A industrialização brasileira não encurtou o abismo entre pobres e ricos. Os senhores viraram empresários, mas continuaram a viver em novas versões da casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores, mas continuaram morando na senzala, em dormitórios feitos para isolar o pobre depois do serviço.

Nos anos 90, aprendemos que, em sessenta anos de industrialização, o Brasil havia gerado três categorias sociais - ricos, pobres e indigentes. É como se elas habitassem países diferentes. Existe a minoria rica, branca, sofisticada, formando uma sociedade mais ou menos comparável à do Canadá. Tem a maioria pobre, negra, silenciosa e resignada, do tamanho do México. E há 32 milhões de indigentes, uma Argentina dentro do Brasil.Esses 32 milhões são brasileiros que o Brasil trata como estrangeiros,uma população indesejada, descurada, quase inimiga.

Este Brasil onde aparentemente não cabem os 150 milhões de habitantes das estatísticas demográficas é assim por descaso. Com a produção agrícola atual, poderia alimentar 300 milhões de pessoas. Nada, em sua economia,impede que sejam gerados agora 9 milhões de empregos de emergência. Se a posse da terra fosse democratizada de maneira rápida e decidida, abriria lugar para 12 milhões de famílias. Se as coisas assim acontecessem, 32 milhões de pessoas que estão passando fome teriam comida, pelo menos comida.

Ser de esquerda é ter pressa de chegar ao futuro. Mas como projetar o futuro no quadro trágico do Brasil de hoje? Os indigentes indicam a rota de um grande naufrágio social, de uma farsa econômica e de um desastre político. Fome, miséria e Aids vão disputar as manchetes da imprensa internacional sobre o país. Fome e miséria porque as produzimos há muito tempo. Aids porque tem, aqui, a mesma cara da miséria. A minoria rica trata-se, os pobres simplesmente morrem.

Projetar o futuro é temer ou desejar. Prever também pode ser identificar os desejos e interesses existentes agora, é reconhecer a possibilidade de que os melhores desejos sejam os desejos dominantes e com isso se transformem na realidade. Pensar o futuro atrai, desafia e engana. E mudar o futuro depende de mudar a maneira como se pensa o presente. O futuro começa hoje. Num passado recente, quando o sindicalismo parecia inteiramente domado pela repressão militar, as greves no ABC paulista desafiaram a imaginação dos sociólogos e a força policial do governo. No passado ainda mais recente, as campanhas da anistia, das eleições diretas, da Constituinte, do impeachment de Collor - todas elas mostraram o poder que tem o desejo de mudar a realidade.

Não faltam argumentos para quem imagina o futuro como o presente piorado. Se o modelo "Casa Grande & Senzala" prevalecer, não haverá outro recurso senão viver numa prisão de ruas fechadas por seguranças privadas, em "bunkers" residenciais. Nesse caso, o futuro brasileiro terá, pelo cinismo e pela indiferença, a sociedade que a África do Sul fez no passado pelo racismo e pela violência.

E o outro lado? E se o futuro depender da explosão social dos oprimidos? Aí é provável que o sistema atual também prevaleça. Não é à toa que ele tem antecedentes históricos.Sempre que preciso, a polícia torturou e matou, as Forças Armadas reprimiram sublevações contra a ordem da classe dominante, as Igrejas ensinaram resignação em vez de horror à injustiça. Deus alegrava a vida dos ricos. O diabo metia medo nos pobres. O brasileiro cordial,produto desse método, é aquele cidadão que ganha salário mínimo e brinca o Carnaval com alegria de fazer inveja ao turista. O Rio de Janeiro não é Los Angeles.

Pode haver revolta. Mas é improvável que seja o caminho da mudança no Brasil. Ela não corre, mas anda. Não corre, mas ocorre.

Seus sinais estão, por exemplo, no melhoramento das cidades em plena crise da administração federal, no basta à corrupção e no movimento pela ética na política, na emergência de movimentos em favor da mulher, da criança ou na ecologia, no anti-racismo. São antídotos contra a cultura autoritária que sempre ditou a receita do desastre social. Eles estão na confluência de duas tendências. Parte da elite não quer viver no apartheid sul-africano. E cada vez mais pobres querem sua cota de cidadania. Essa maré vai empurrando a democracia da sociedade para o Estado, de baixo para cima, dos movimentos sociais para os partidos e instituições políticas.

É nela que eu hoje acredito. E, por causa dela, encontro-me outra vez com a velha questão que me levou à militância política: o que fazer com a miséria? Aceitá-la a título provisório? não dá; aquilo que produz miséria simplesmente não pode ser aceito. A condenação ética da miséria passou a ser a luta contra a miséria para conquistar a democracia.

É preciso começar pela miséria. Essa é a energia da mudança que move a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, revelada na adesão de pessoas de todas as classes sociais, idades, tendências políticas e religiosas, parlamentares e prefeitos, empresas públicas e privadas , artistas e meios de comunicação e, sobretudo, na adesão de jovens à tarefa de recolher e distribuir alimento. Essa juventude está descobrindo o gosto de romper o círculo de giz da solidão e abrir o espaço fecundo da solidariedade. Esse mesmo gosto que há quarenta anos se reservava à militância.

No combate à fome há o germe da mudança do país. Começa por rejeitar o que era tido como inevitável. Todos podem e devem comer, trabalhar e obter uma renda digna, ter escola, saúde, saneamento básico, educação, acesso à cultura. Ninguém deve viver na miséria. Todos têm direito à vida digna, à cidadania. A sociedade existe para isso. Ou, então, ela simplesmente não presta para nada. O Estado só tem sentido se é um instrumento dessas garantias. A política, os partidos, as instituições, as leis só servem para isso. Fora disso, só existe a presença do passado no presente, projetando no futuro o fracasso de mais uma geração.

Quando eu era cristão e queria lutar contra a miséria, meu dia começava com um Padre-Nosso. Tinha fome de divindade. Hoje, ainda luto contra a miséria, mas meu dia começa com um Pão Nosso. Tenho fome de humanidade.
A USP e a estrutura de dominação do sistema
Este é o post de número 666. Vou dedicá-lo à USP.
Eu sempre disse que a USP é um centro de formação da classe dominante. É uma Universidade pública que foi feita para servir à elite e aos grupos dominantes. Ela não foi feita para as classes baixas e nem para a coletividade ou para a maioria da população. E isto pode ser visto em várias ações dessa Universidade.

É uma Universidade que fixa, alimenta e reproduz o pensamento dos grupos dominantes. Passando as normas e regras de dominação de geração para geração.

A função da USP, dentro da estrutura de dominação, é manter intacto o pensamento hegemônico e dissimulá-lo, o máximo possível, nas informações e nos conhecimentos ensinados, nos projetos e pesquisas que realiza. Não só isto, como já dissemos, a USP, assim como outras Universidades Públicas, mas mais a USP, por ser hegemônica, forma a elite que opera o sistema de dominação. Autoridades públicas importantes e grandes capitalistas estudaram na USP, seja na graduação ou pós-graduação, ou são influenciados por professores da USP.

Se tanta gente importante do sistema passaram pela USP ou são influenciados por professores da USP, por que as coisas não mudam ? Não mudam porque a USP não foi feita para promover mudanças na sociedade. Foi feita para manter o status quo, a dominação de uma minoria rica sobre a maioria.

Por que você acha que existem poucos estudantes da escola pública na USP ? Por que os pobres são minorias aqui ? Por que os negros, que são a maioria da população, são minoria na USP ? Por que a definição de mérito, usada pela USP, é uma coisa que só os ricos tem ? Porque a USP é um centro de formação da elite, dos grupos dominantes. Porque a USP foi feita para reproduzir e perpetuar a dominação da minoria branca rica sobre a maioria de negros e pobres.

Olhem para as cotas... A USP não aceita o sistema de cotas. Diz que ela viola o mérito que só os ricos tem. Olhem para o sistema de pós-graduação da USP, a maioria dos pós-graduandos pertencem aos grupos dominantes. Os concursos para professor da USP são a mesma coisa. Para manter o sistema de dominação é preciso que os professores e a maioria dos alunos pertençam aos grupos dominantes, caso contrário a coisa não funciona.

E eles são tão diabólicos que mantém esta estrutura de dominação rodando bem na frente da cara de todo mundo. E pior, ainda mandam a conta para a maioria da população, os negros e pobres, pagarem. Em outras palavras, a USP é um centro de formação da elite. Os herdeiros dos grupos dominantes, da dominação, da opressão, da exclusão e da exploração, estão todos estudando aqui. E quem está pagando os estudos deles: os dominados, os oprimidos, os excluídos e os explorados.

Mas e os indivíduos das classes baixas que entram na USP ? O que eles fazem ? Quando entram, é em curso pouco concorrido ou de baixo poder de decisão dentro do sistema de dominação.

Se entram em cursos da elite, são transformados em operadores do sistema de dominação. Viram advogados do sistema, políticos do sistema, administradores de grandes empresas e bancos, etc. Esquecendo, completamente, o lugar de onde saíram ou de onde vieram. Pior do que isto, nada fazem para que o sistema de dominação seja quebrado, para que as portas da Universidade sejam abertas para todos, para a coletividade, para a maioria da população.

Enfim, de uma forma geral, o estudante da classes baixas acabam sendo assimilados ou cooptados, dentro da USP, pelos sistema de dominação. Além disso, podem ser doutrinados e formatados para aceitarem a opressão e a exploração do sistema, para ficarem passivos e resignados diante do mal e das injustiças. Falam em não-violência, em social-democracia, paz, etc, não percebendo que tudo isto é truque do sistema para evitar a revolução.

E isto não mudará... enquanto existir o sistema de dominação e uma minoria de grupos dominantes, a USP continuará sendo o que é e fazendo o que faz. Ela integra uma estrutura maior de dominação.

Uma estrutura que está ligada com a política, mais especificamente, com a democracia representativa. A democracia representativa é a democracia dos grupos dominantes. É a democracia de uma minoria dominando a grande maioria.

Está ligada com a estrutura de dominação do judiciário e da administração pública. Olhe para os concursos públicos, não são parecidos com os méritos da USP ? Nestes concursos, a maioria da população, principalmente os pobres e negros, estão completamente excluídos. Primeiro, porque exigem diplomas. Segundo, porque as provas são mais difíceis que o vestibular e só passa quem paga cursos caríssimos...

O que mudará esta realidade ? Uma revolução... Todo o sistema tem que ser quebrado. Toda a estrutura tem que ser modificada.
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Teorias sobre a educação escolar e a desigualdade
Bernstein: Códigos de linguagem
Anthony Giddens -- Sociologia --artmed -- 2005 -- p.412-414
Existem várias perspectivas teóricas sobre a natureza da educação moderna e suas implicações para a desigualdade. Uma dessas abordagens é a que enfatiza as habilidades linguísticas.

Na década de 1970, Basil Bernstein defendeu a tese de que crianças de origens diversas desenvolvem códigos diferentes, ou tipos de fala, na fase inicial da vida, as quais afetam suas experiências posteriores na escola. Seu interesse não está nas diferenças de vocabulário ou de habilidades verbais, como normalmente se sugere, mas nas diferenças sistemáticas no emprego da linguagem, especialmente no contraste entre as crianças mais pobres e as mais ricas.

O modo de falar das crianças pertencentes à classe trabalhadora, afirma Bernstein, representa um código restrito - uma forma de utilizar a linguagem que contém muitas suposições não-declaradas que os falantes esperam que os outros reconheçam. Um código restrito é uma espécie de discurso vinculado ao seu próprio cenário cultural.

Muitos indivíduos da classe trabalhadora vivem em uma cultura muito voltada à família ou ao bairro, na qual se parte do pressuposto de que todos conhecem os valores e as normas sem expressá-los através da linguagem. Os pais tendem a socializar seus filhos empregando diretamente recompensas ou repreensões para corrigir seu comportamento.

Em um código restrito, a linguagem adapta melhor à comunicação de experiências práticas do que à discussão de idéias, processos ou relações mais abstratas. Assim, o discurso do código restrito é típico de crianças que crescem em famílias de classe baixa e dos grupos sociais com os quais elas convivem. O discurso é orientado para as normas do grupo, sem que ninguém consiga explicar facilmente o motivo de estar seguindo os padrões de comportamento que segue.

Bernstein acredita que o desenvolvimento da linguagem das crianças da classe média, em contraste, envolve a aquisição de um código elaborado - um estilo de discurso em que os significados das palavras podem ser individualizados para satisfazer às demandas de situações específicas. Os modos pelos quais as crianças da classe média aprendem a utilizar a linguagem são menos vinculados a contextos particulares; as crianças conseguem fazer generalizações e expressar idéias abstratas com maior facilidade.

Dessa forma, quando mães de classe média controlam seus filhos, elas freqüentemente explicam os motivos e os princípios que estão por trás de suas reações ao comportamento da criança. Enquanto uma mãe da classe trabalhadora pode repreender seu filho por querer comer muitos doces dizendo simplesmente "Chega de doces !", é mais provável que uma mãe da classe média explique que exagerar nos doces faz mal à saúde e estraga os dentes.

Crianças que adquiriram códigos elaborados de fala, sugere Bernstein, têm mais condições de lidar com as exigências da educação acadêmica formal do que aquelas que se limitaram a códigos restritos. Isso não significa que o tipo de discurso das crianças da classe trabalhadora seja "inferior", ou que seus códigos de linguagem sejam "pobres", mas, sim, que o seu modo de falar não combina com a cultura acadêmica da escola. Aqueles que dominam códigos elaborados se adaptam com muito mais facilidade ao ambiente escolar.

Há evidências que fortalecem a teoria de Bernstein, mesmo que sua validade ainda seja discutida. Joan Tough (1976) estudou a linguagem das crianças da classe trabalhadora e da classe média, encontrando diferenças sistemáticas. Ela confirma a tese de Bernstein de que as crianças da classe trabalhadora geralmente têm menos oportunidades de ouvir respostas para suas perguntas ou explicações sobre o raciocínio dos outros. À mesma conclusão chegaram Barbara Tizard e Martin Hughes (1984) em uma pesquisa posterior.

As idéias de Bernstein nos auxiliam a entender por que pessoas que provém de determinados meios sócio-econômicos tendem a ter um desempenho abaixo do seu potencial na escola. São estes os traços associados ao discurso do código restrito que inibem as chances de uma criança em termos educacionais;

-- A criança provavelmente recebe respostas limitadas às perguntas que faz em casa; logo, é provável que ela fique menos bem-informada e menos curiosa em relação ao mundo em um sentido mais amplo do que aquelas que dominam códigos elaborados.

-- A criança encontrará dificuldades para responder à linguagem impassível e abstrata empregada no ensino, bem como aos apelos em relação aos princípios gerais da disciplina escolar.

-- É provável que muito do que o professor disser seja incompreensível para a criança, pois ele empregará a linguagem de uma forma com a qual a criança não está acostumada. Para lidar com esse problema,a criança não está acostumada. Para lidar com esse problema, a criança talvez tente traduzir a linguagem do professor para algo que lhe seja familiar - mas, nesse caso, é possível que ela deixe de compreender justamente os princípios que o professor pretende transmitir.

-- Embora decorar ou repetir não sejam atividades muito difíceis para a criança, ela pode encontrar grandes dificuldades para entender distinções conceituais que envolvem generalizações e abstração.
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Illich: o currículo oculto
Um dos autores mais controversos da teoria educacional é Ivan Illich. É reconhecido por suas críticas ao desenvolvimento econômico moderno, que ele descreve como um processo por meio do qual as pessoas, que anteriormente eram auto-suficientes, são privadas de suas habilidades tradicionais e obrigadas a dependerem de médicos que tratem de sua saúde, professores que as ensinem, televisão que as divirta e patrões que garantam sua subsistência.

Illich argumenta que a própria noção da obrigatoriedade da educação escolar - hoje aceita no mundo inteiro - deveria ser questionada (1973).

O autor enfatiza o elo existente entre o desenvolvimento da educação e as exigências da economia por disciplina e hierarquia. Illich afirma que as escolas evoluíram para lidar com quatro tarefas básicas: o cuidado custodial, a distribuição dos indivíduos em papéis ocupacionais, o aprendizado de valores dominantes e a aquisição de habilidades e conhecimento que sejam socialmente aprovados.

Quanto ao primeiro item, a escola tornou-se uma organização custodial, pois a freqüência nas aulas é obrigatória, e as crianças são mantidas longe das ruas desde a infância até o ingresso no mercado de trabalho.

Muito do que se aprende na escola não tem nada a ver com o conteúdo formal das aulas. As escolas tendem a inculcar o que Illich (1973) definiu como consumo passivo - uma aceitação irrefletida da ordem social existente - por meio da natureza da disciplina e da arregimentação que envolvem. Essas ligações não são ensinadas conscientemente, estando implícitas nos procedimentos e na organização escolares. O currículo oculto ensina à criança que seu papel na vida é conhecer o seu lugar e ficar sentada quietinha nele.

Illich defende uma sociedade sem escolas. A obrigatoriedade da educação escolar é uma invenção relativamente recente, salienta ele; não há por que aceitá-la como se fosse algo de certa forma inevitável. Já que as escolas não promovem a igualdade ou o desenvolvimento de habilidades criativas individuais, por que não abolirmos o seu formato atual ?

Com isso, Illich não quer dizer que todas as formas de organização educacional devam ser extintas. Todo aquele que quiser aprender deve ter acesso aos recursos disponíveis - em qualquer momento da vida, não apenas na infância ou na adolescência. Um sistema assim possibilitaria a ampla difusão e divisão do conhecimento, que não ficaria limitado aos especialistas.

Os estudantes não deveriam ter de se submeter a um currículo-padrão, devendo ter possibilidade de escolha em relação ao que estudam.

O que tudo isso significa em termos práticos não está totalmente claro. No lugar das escolas, entretanto, Illich sugere que haja diversos tipos de estrutura educacional. Recursos materiais para o aprendizado formal seriam guardados em bibliotecas, locadoras, laboratórios e bancos de armazenamento de informações, disponíveis a qualquer estudante.

Seriam instaladas "redes de comunicações" que ofereceriam dados a respeito das habilidades de vários indivíduos e de sua disposição para ensinar outras pessoas ou se envolver em atividades de aprendizado mútuo. Os estudantes receberiam vales que lhes possibilitariam utilizar os serviços educacionais quando e como eles desejassem.

Será que essas propostas são completamente utópicas ? Muitos diriam que sim. Mas caso, no futuro, haja uma redução ou uma reestruturação substancial do trabalho remunerado, como aparentemente é possível, essas idéias parecerão menos irrealistas. Se o emprego assalariado adquirisse um papel menos central na vida social, as pessoas poderiam se envolver em uma variedade maior de atividades.

Diante desse quadro, algumas das idéias de Illich fazem bastante sentido. A educação não seria apenas um primeiro treinamento, limitado a instituições especiais, mas ficaria à disposição de quem quisesse aproveitá-la.

As idéias de Illich, divulgadas na década de 1970, entraram novamente na moda nos anos de 1990 com o avanço das novas tecnologias das comunicações. Como vimos, algumas pessoas acreditam que os computadores e a internet possam revolucionar a educação e reduzir as desigualdades.

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Bourdieu: educação e reprodução cultural
A maneira mais esclarecedora de associarmos alguns dos temas dessas perspectivas teóricas talvez seja por meio do conceito de reprodução cultural (Bourdieu, 1986, 1988; Bourdieu e Passeron, 1977).

A reprodução cultural refere-se às formas pelas quais as escolas, juntamente com outras instituições sociais, ajudam a perpetuar desigualdades econômicas e sociais ao longo de gerações.

O conceito direciona nossa atenção aos meios pelos quais as escolas, através do currículo oculto, influenciam o aprendizado de valores, atitudes e hábitos. As escolas reforçam as variações nos valores culturais e nas visões selecionadas nos primeiros anos da vida; quando as crianças deixam a escola, essas variações têm o efeito de limitar as oportunidades de algumas crianças ao mesmo tempo que facilitam as de outras.

Não há dúvidas de que os modos de emprego da linguagem identificados por Bernstein estão relacionados a essas óbvias diferenças culturais, que subjazem às variações de interesses e de gostos.

Crianças provenientes da classe baixa, e muitas vezes de grupos minoritários, desenvolvem formas de conversar e de agir que estão em desarmonia com aquelas que imperam na escola. As escolas impõem regras de disciplina aos alunos, a autoridade dos professores volta-se para o aprendizado acadêmico.

As crianças da classe trabalhadora sofrem um baque cultural bem maior ao entrarem na escola do que aquelas que vêm de lares mais privilegiados - na realidade, as primeiras têm a impressão de estarem em um ambiente cultural estrangeiro. Não apenas é menos provável que elas encontrem motivação em alcançar um alto nível de desempenho acadêmico, mas também sua maneira habitual de falar e de agir, como defende Bernstein, não combina com a dos professores, mesmo que cada um faça o melhor para se comunicar.

As crianças passam bastante tempo na escola. Como enfatiza Illich, elas aprendem muito mais lá do que é oficialmente ensinado nas aulas. Bem cedo, as crianças têm uma amostra do que vai ser o mundo do trabalho, aprendendo que deverão ser pontuais e diligentes nas tarefas determinadas por aqueles que estã em posição de autoridade (Webb e Westergaard, 1991).

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Willis: uma análise da reprodução cultural
Uma célebre discussão a respeito da reprodução cultural aparece no relatório do estudo de trabalho de campo executado por Paul Willis em uma escola de Birmingham (1977). Mesmo tendo sido realizado há mais de duas décadas, esse estudo continua sendo um clássico da investigação sociológica.

Willis propôs a seguinte questão para investigação: como ocorre a reprodução cultural - ou como ele a colocou, "como os filhos da classe trabalhadora arranjam empregos na classe trabalhadora."

Normalmente se imagina que, durante o processo da educação escolar, crianças que provenham de meios de classe baixa ou de minorias simplesmente acabem percebendo que "não são inteligentes o bastante" para esperar conseguir empregos que garantam um status elevado e altos salários no futuro.

Em outras palavras, a experiência do fracasso acadêmico as ensina a reconhecer suas limitações intelectuais; aceitando sua "inferioridade", elas partem para ocupações com perspectivas de carreira limitadas.

Como enfatiza Willis, essa interpretação não está absolutamente de acordo com a realidade da vida e das experiências das pessoas. A "sabedoria das ruas" dos indivíduos que vêm de bairros pobres pode ter pouca ou nenhuma relevância para o sucesso acadêmico, porém envolve um conjunto de habilidades tão sutil, engenhoso e complexo quanto qualquer outra prática intelectual ensinada na escola.

Poucas crianças, se é que alguma, saem da escola pensando "sou tão burra que mereço passar o dia empilhando caixas em uma fábrica." Se as crianças de origem menos privilegiada aceitam trabalhos braçais, e não se sentem fracassadas pelo resto da vida, é porque deve haver outros fatores envolvidos na questão.

Willis concentrou-se em um grupo específico de garotos na escola, passando bastante tempo com eles. Os membros dessa turma, que se autodenominavam "os caras", eram brancos; a escola também tinha muitas crianças de famílias das Índias Ocidentais e da Ásia. Willis descobriu que esses rapazes tinham uma compreensão crítica e perspicaz do sistema de autoridade da escola - mas a utilizavam para combater esse sistema, e não para trabalhar a seu favor.

Eles viam na escola um ambiente hostil, mas que poderia ser manipulado para seus próprios objetivos. Tiravam prazer dos conflitos constantes - que, na maioria das vezes, eles mantinham em função de pequenas rixas - com os professores. Tornavam-se peritos em enxergar os pontos fracos das reclamações dos professores por autoridade, assim como os seus pontos vulneráveis enquanto indivíduos.

Na sala de aula, por exemplo, as crianças deveriam ficar sentadas e quietas e dar continuidade aos seus trabalhos. Mas "os caras" passavam o tempo todo se mexendo, exceto nos momentos em que o olhar fixo do professor pudesse imobilizá-los por um instante; ficavam fofocando dissimuladamente, ou faziam comentários em voz alta que beiravam à insubordinação, mas que poderiam ser explicados caso fossem contestados.

"Os caras" reconheciam que o trabalho seria parecido com a escola, mas não viam a hora de começarem a trabalhar. Não esperavam obter uma satisfação direta com o ambiente de trabalho, mas aguardavam com impaciência o momento de receberem um salário. Longe de considerarem as funções que exerciam - em trabalhos de borracharia, colocação de carpetes, encanamentos, pintura e decoração - atividades inferiores, eles demonstravam a mesma atitude de superioridade diante do trabalho que tinham em relação à escola. Gostavam do status de adulto que o trabalho proporcionava, mas não estavam interessados em "construir uma carreira".

Como salienta Willis, o trabalho em ambientes de produção, muitas vezes, envolve aspectos culturais bem semelhantes àqueles criados por esses rapazes em sua cultura de oposição à escola - brincadeiras, raciocínio rápido e habilidade para subverter as exigências das figuras de autoridade quando necessário. Só depois de muito tempo é que eles podem acabar percebendo que estão presos em um trabalho árduo, que não traz recompensas. Quando possuem uma família, é possível que olhem para o passado e percebam - sem esperanças - que a educação teria sido sua única saída. Entretanto, se tentam passar essa visão para seus próprios filhos, estes provavelmente não terão mais sucesso na vida do que seus pais o tiveram.