domingo, 4 de junho de 2006

Polícia usa software contra o PCC


Programa que armazena fichas e fotografias de 281 mil criminosos ajudou a prender 3 acusados de atentados


Luiz Fernando Ferreira não entendeu como foi preso com armas e as faixas que ele pretendia espalhar pela cidade com a frase: "Respeito ao mando do crime". O que o jovem de 24 anos, que tem um dragão tatuado na perna direita, não sabe é que ele foi denunciado por um programa de computador: o Fotocrim, que armazena as fichas e fotografias de 281 mil criminosos no Estado.

Integrante do Primeiro Comando da Capital, Ferreira é suspeito de ter participado dos atentados comandados pelo PCC em maio. Uma consulta no sistema feita pelos agentes do Sistema de Informações da Polícia Militar (Sipom) levou os policiais da cidade a descobrir que o suspeito estava em liberdade. O Sipom repassou os dados sobre Ferreira e os locais em que ele poderia ser achado a policiais da região de São José dos Campos, que detiveram o suspeito. Ferreira estava com três bombas de fabricação caseira.

Por meio do Fotocrim, a PM armazenou um dos mais completos arquivos do País sobre o crime organizado. O sistema tem fichas de 4.895 integrantes do PCC com nome, foto, crimes praticados e comparsas. Entre eles estão 133 que pertencem à liderança da facção. É por meio dessas informações que a polícia traça um perfil do PCC e procura monitorar suas atividades. Elas podem ser acessadas pelos 9.700 computadores existentes em quartéis da PM dos 645 municípios de São Paulo.

"Outros dois acusados de participação nos atentados foram presos da mesma forma", disse o capitão Ulisses Puosso, que gerencia o Fotocrim na 2ª Seção do Estado-Maior da PM, responsável pelo Sipom.

Um dos criminosos capturados foi Peterson Coutinho, de 21. A PM recebeu uma denúncia sobre onde estava Coutinho, apontado como integrante do PCC e suspeito de envolvimento em atentados na zona sul. Para ter certeza de que se tratava de fato do acusado, os policiais verificaram a ficha dele no sistema. Com a confirmação das características físicas, os agentes do Sipom pediram ao 27º Batalhão da PM que enviasse uma equipe para deter o suspeito.

LÍDERES

Além de ajudar a localizar integrantes do PCC, o Fotocrim foi usado pela PM para traçar um perfil da facção no Estado, identificando o primeiro, o segundo e o terceiro escalão da organização. Deles fazem parte pessoas como o traficante de drogas Edilson Borges Nogueira, o Biroska. Ele é acusado de financiar a construção de túneis e de comprar fugas para integrantes da facção. Outro integrante da cúpula com uma função específica no PCC é Fabiano Alves de Souza, o Gugu, que cuidava do roubo de cargas de cigarros.

Os agentes do Sipom discriminaram os principais criminosos do Estado que colaboram com a facção ensinando táticas ou contribuindo com dinheiro. No primeiro caso estão os assaltantes Alexandre Pires Ferreira, o ET, e José Carlos Rabelo, o Pateta, e o seqüestrador Pedro Ciechanovicz, o maior do País. Entre os traficantes que financiariam o PCC está Claudair Lopes de Farias, o CL, sócio de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. CL manteria ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), de quem compraria parte da cocaína que distribui no Brasil.

No segundo, está, segundo a polícia, Maurício Hernandez Norambuena, o Comandante Ramiro, líder dos seqüestradores do publicitário Washington Olivetto e dirigente da Frente Patriótica Manoel Rodrigues (FPMR) chilena. A suspeita da polícia é de que algumas táticas de guerrilha, como a propaganda por comunicados e a diversificação de alvos, adotadas pelo PCC tenham sido ensinadas à cúpula da organização por Norambuena.

Ao todo, o Fotocrim tem fotografias de 281.697 criminosos, das quais 135.347 foram fornecidas pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) por meio de um acordo feito em 2003. O sistema funciona desde 2002 e as informações obtidas por meio dele já foram responsáveis pela prisão de cerca de 700 pessoas no Estado.

"Podemos fazer pesquisas por meio de qualquer dado de nosso arquivo, como uma rua ou bairro ou como um tipo de crime, um apelido e até por meio da descrição física do criminoso", disse o capitão. Assim, quando um bandido é preso em flagrante sozinho, os policiais podem descobrir quem são os comparsas com quem ele costuma agir. Dessa forma é possível procurar possíveis suspeitos que tenham conseguido escapar e prendê-los. A cada criminoso preso, uma nova foto será feita para os arquivos do Fotocrim.

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