Questões sobre educação
O judeu é mais inteligente?
Folha Online -- Gilberto Dimenstein
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u342911.shtml
Em entrevista à Folha, o cientista político norte-americano Charles Murray disse que a genética seria uma das explicações para a suposta inteligência superior dos judeus.
Será? Na condição de judeu, não acredito nessa influência genética. Não é só porque, para mim, superioridade genética e barbárie se confundem na história. Mas, como alguém que trabalha com educação, acredito que exista uma cultura específica que ajude na projeção de um povo que, apesar de ter apenas 12 milhões de pessoas, tem 25% dos ganhadores do Prêmio Nobel.
O que existe entre judeus (e não só entre eles) é uma reverência obsessiva pelo conhecimento, que vem de gerações. É o chamado povo do livro. O rabino, a pessoa mais importante da comunidade religiosa, não tem força por ser um intermediário com Deus, mas por ser um intérprete das leis, ou seja, um intelectual. Livros sagrados são feitos de perguntas.
O ritual iniciatório do judeu não é matar um guerreiro ou passar por privações. Mas é ler um livro (a Torá). Ou seja, se quiser virar adulto terá de saber ler em pelo menos uma língua. O analfabetismo sempre foi muito baixo entre os judeus, o que assegurou uma rede de escolas.
A educação não é vista como uma responsabilidade apenas da escola. Mas, em primeiro lugar, da família e, depois, da comunidade. Educa-se em casa, na sinagoga e também na escola. Aprende-se, portanto, todo o tempo e em todos os lugares.
Como o judeu é o povo por mais tempo perseguido da história da humanidade, desenvolveu-se a sensação do desafio permanente. Isso se traduz na idéia de que o estudo é a melhor defesa --e também a coisa mais segura para ser carregada.
Nessa junção dos capitais humano e social, tem-se a receita não do desempenho intelectual de um povo, mas da força divina da educação, replicável por qualquer agrupamento humano.
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Você é superdotado?
Folha Online -- Gilberto Dimenstein
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u338574.shtml
Foi concluído neste mês estudo mostrando que cerca de 18% de estudantes de duas escolas municipais em bairros pobres da cidade de São Paulo são superdotados. Mas o que são superdotados? Esqueça o que você sabe ou pensa que sabe sobre o assunto.
Há um esforço entre especialistas de desmistificar o superdotado, que se associa à figura do gênio, desses que tocam piano excepcionalmente bem aos cinco anos de idade ou resolvem precocemente equações matemáticas. O conceito mais apropriado é o de alta habilidade. São estudantes com habilidades acima da média em artes, matemática, ciências, liderança, esportes ou português. Valorizam-se, assim, as mais diferentes habilidades, porque, na verdade, existem diferentes tipos de inteligências.
Existem aqui vários problemas pela falta de conhecimento sobre altas habilidades. O mais óbvio deles é como as escolas, especialmente as públicas, não sabem identificar os superdotados. Nem muito menos como ajudá-los.
Como, muitas vezes, os altamente habilidosos não suportam a rotina escolar, eles são desprezados e punidos. E, não raro, tratados com antidepressivos. É comum superdotados serem hiperativos ou terem distúrbio de atenção.
Por causa da péssima educação pública, nosso maior desperdício é o de talentos em geral. Isso se torna ainda mais grave diante dessa multidão de indivíduos que nasceram como uma altíssima propensão ao talento. O que, se estatística estiver correta, estamos falando de cerca de 10 milhões de estudantes. Jogamos fora o que temos de melhor - e, não raro, alguns deles são recrutados pelo o que existe de pior.
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Para ajudar pais e professores, coloquei em meu site ( www.dimenstein.com.br ) uma série de dados para aprender a desconfiar se estão diante de crianças e jovens superdotados.
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Qual é a maior estupidez brasileira?
Folha Online -- Gilberto Dimenstein
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Começa nesta semana um programa gerido por médicos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para diminuir o espantoso número de estudantes que, por causa de doenças simples de serem tratadas, têm dificuldades nas escolas. O programa é patrocinado pela prefeitura de São Paulo, previsto para atingir todos os alunos da rede municipal.
Faz dois meses que os médicos da Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina) desenvolvem um piloto numa escola e encontraram uma galeria de horrores. É como se crianças estivessem apodrecendo por falta de tratamento médico. Algumas doenças são de fácil resolução como baixa acuidade visual e de audição. A taxa de sobrepeso é de 30%; 60% têm cáries.
O que os médicos estão constatando ocorre em todas as escolas brasileiras --e ocorre porque não se consegue um melhor entrosamento entre as áreas de educação e saúde. Estamos falando aqui de um problema que, segundo as estatísticas, atinge 40% dos alunos da rede pública. Ou seja, algo como 25 milhões de estudantes. Sei de meninos tratados como surdos, mas que não limpavam o ouvido. E de outros considerados retardados pelos professores, mas que tinham distúrbios psicológicos provocados pela violência doméstica. Há disléxicos considerados burros. Ou anêmicos chamados de preguiçosos.
Não é fácil eleger a maior imbecilidade brasileira, tamanha a oferta de candidaturas. Pelo impacto social, meu voto vai pela falta ou precariedade de programas de saúde escolar. Só um estúpido completo é capaz de imaginar que vamos melhorar nossos indicadores educacionais com crianças que não ouvem e não enxergam direito.
PS- Se Gilberto Kassab conseguir tocar esse projeto, terá realizado sua maior contribuição à cidade de São Paulo. Muito maior do que a Cidade Limpa que, apesar de seus méritos, é uma obra de fachada. Não existe pior poluição do que a falta de saúde e a falta de educação. Se bem sucedido (o que, em se tratando de poder público, é sempre uma dúvida), a Unifesp poderá disseminar esse modelo em todas as grandes cidades, onde, em geral, a saúde escolar é, quando existe, pífia.
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