Aventura da vida 5 - Documentário da BBC
Vida Humana
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Leonildo Correa - Instituto OCW Br@sil - 02/12/2007
Eu assisti, recentemente, um documentário da BBC de Londres - "Aventura da Vida" - sobre o desenvolvimento e a evolução da vida na Terra (ver documentário). Não é um documentário só. São vários documentários, mas o mais interessante é o último deles, o de número 5. Este último trata da evolução do homem na Terra e busca responder à questão: se nós possuímos 99% dos genes que possui um chimpanzé, por que somos tão diferentes deles ? Certamente, é uma questão muito interessante, e, sem dúvida nenhuma, a resposta é surpreendente. Tão surpreendente que, enquanto o documentário se desenrolava, eu o relacionava com os projetos OCW e com o Ensino Público via internet. Mas, certamente, você só entenderá esta relação, se assistir o documentário ou ler o pequeno resumo que apresento abaixo.
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Inicialmente, diz o documentário, que as melhores pistas para desvendar o nosso passado estão nos chimpanzés. Isto porque quando estudamos estes parentes descobrimos indícios de que realmente descendemos de um ancestral simiesco e isto está marcado no âmago de nossos corpos, em nossos genes. 99% de nossos genes são exatamente iguais aos dos chimpanzés. E o que há no 1% restante é o que nos faz ser homens, em vez de macacos.
Fugindo um pouquinho do tema, no episódio quatro deste documentário, há uma informação interessante. Ele diz que há uma ser marinho, parecido com uma planta, que possui cerca de 80% dos genes que nós possuímos, inclusive aqueles genes que formam o coração.
Retornando ao episódio cinco. No princípio, a diferença entre homens e macacos não tinha nada a ver com a potência cerebral. Entre quatro e cinco milhões de anos atrás, os ancestrais dos homens começaram a passar mais tempo no chão do que nas árvores, onde ficaram os chimpanzés. Assim, os chimpanzés desenvolveram o caminhar apoiado nas articulações dos dedos e suas mãos permaneceram grossas e firmes para sustentar seu peso. Já os homens escolheram uma solução mais radical e este foi o primeiro passo na jornada humana. Os homens ficaram de pé sobre as duas pernas. Depois disso, avançaram sem olhar para trás.
Contudo, os cérebros humanos não eram tão grandes como são hoje. Há cinco milhões de anos atrás eram bem menores. Tinham o mesmo tamanho do cérebro dos chimpanzés.
Então, por que o caminhar ereto foi um passo tão crucial para os homens ? A resposta é: apoiando todo o peso sobre os pés, os homens deixaram as mãos livres para fazer outras coisas. Inclusive, isto originou o movimento de pinça delicado e preciso entre o indicador e o polegar. Uma característica exclusiva dos seres humanos.
Além disso, nossos polegares são mais longos e flexíveis que os dos chimpanzés, pois não precisamos andar apoiados nas mãos. Assim, as mãos humanas tornaram-se instrumentos de precisão que podem ser utilizados de maneiras extraordinariamente variadas. Mas não foi só isso que obrigou o aumento do cérebro. Também contribuíram a união e formação de grupos. Maneiras de evitar ser devorados pelos predadores. Logo, a vida comunitária trouxe novos desafios e obrigou o homem a começar a usar a cabeça.
A convivência trouxe um elemento novo: a vida social. Mas, quanto maior o grupo, mais problemas sociais podem aparecer. E, mais uma vez, há a necessidade de um cérebro grande para lidar com eles. Assim, pouco a pouco e milhões de anos depois, comparado aos chimpanzés, o homem se transformou em um cabeçudo.
Vivendo em grupo, criar amizades e alianças é algo crucial. É preciso lembrar quem é quem e o que é o quê. Logo, o próximo passo na evolução dos cabeçudos, digo dos homens, foi conquistar a cultura e a civilização. Uma evidência antiga disso foi descoberta na Caverna Blombos, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul. Nesta Caverna foi descoberto um artefato de argila com óxido de ferro. Objeto denominado ocre. Este artefato possui cerca de setenta mil anos.
Este artefato histórico possui entalhes surpreendentes. Formas abstratas que são o primeiro registro que se tem de uma obra de arte. A peça é um marco das raízes do que chamamos cultura e civilização. É importante ressaltar que a arte e a religião diferenciam o homem do resto dos animais. Não só isto, são estas características que possibilitaram a construção das grandes civilizações.
Muitos cientistas crêem que a chave para o avanço extraordinário dos seres humanos é uma coisa em que não costumamos pensar muito: a linguagem. Mas por que a fala é tão importante na história da raça humana ? E a resposta está na transferência de conhecimento. Os chimpanzés adquirem habilidades por imitação. Os pequenos chimpanzés aprendem observando as mães.
Como os chimpanzés, as crianças menores também aprendem imitando as maiores. Assim, as habilidades passam de geração para geração. Contudo, há uma grande diferença entre os humanos e os macacos. Esta diferença é que os chimpanzés podem levar até seis anos para dominar totalmente a técnica de quebrar nozes, enquanto os humanos, por outro lado, podem usar um atalho. Os humanos podem ensinar, até as crianças mais novas, simplesmente falando com elas. Assim, estas crianças podem aprender uma técnica instantaneamente.
E com a linguagem continuamos a aprender coisas novas pelo resto de nossas vidas. Assim, há cem mil anos atrás já resolvíamos problemas conversando uns com os outros. Além disso, com nossos cérebros avantajados, criamos uma comunicação que nunca havia sido tentada antes. Quando nos tornamos seres falantes, nossa evolução cultural pode começar. E este é o segredo escondido atrás do 1%.
Evolução cultural foi uma idéia totalmente nova. Enquanto nossos parentes chimpanzés ficaram presos à evolução biológica, os humanos deram um salto quântico usando a evolução cultural. Uma evolução que não se baseia nos genes como a evolução biológica, mas sim no ato de partilhar idéias.
Com a fala, o conhecimento pôde ser disseminado depressa. Este foi um dos avanços mais revolucionários da Aventura da Vida, que nos colocou no caminho para dominarmos o mundo.
Mas não foi só isto. A erupção de um vulcão na Ilha de Sumatra - Vulcão Toba - cobriu a maior parte do planeta com uma nuvem tóxica, impedindo a passagem dos raios de sol. Isso ocasionou uma grande extinção - extermínio da maioria das espécies, incluindo a maior parte dos seres humanos. Hoje, cientistas acreditam que o que pode ter salvado uma pequenas parte dos homens da extinção foi o trabalho em conjunto e a troca de informações.
Em um ambiente hostil e árido, uma dica dos vizinhos pode salvar sua vida. Sem essa troca regular de conhecimentos, os vários povoados ficariam isolados e, sem ajuda externa, acabariam extinguindo-se. Hoje, supõe-se que foi nossa habilidade para falar e ajudar uns aos outros em um ambiente hostil que nos salvou depois da erupção do vulcão Toba.
Assim, os humanos não estavam apenas falando e compartilhando idéias, mas, mais do que nunca, já trabalhavam juntos. Com isso, a evolução cultural estava em pleno curso por todo o planeta.
Embora contar aos outros o que se sabe por meio da fala continue sendo primordial para o homem, a sua capacidade de armazenar conhecimento individualmente é muito limitada. Uma pessoa sozinha não pode saber tudo. Se alguém morre sem passar suas idéias e sua cultura adiante, elas estarão perdidas para sempre. A menos, é claro, que sejam escritas.
A solução foi preservarmos nossas idéias e conhecimentos nos livros. Com isto, a evolução cultural acelerou ainda mais. Com a escrita, gerações futuras expandiram idéias que já haviam sido delineadas. Ninguém pode lembrar sozinho como se constrói um foguete, mas, se estiver escrita, esta informação estará ao alcance de muitas pessoas.
Por dois mil e quinhentos anos, preservamos nossa preciosa cultura em livros. Mas a quantidade de conhecimento que pode ser armazenada no computador excede a de todos os livros, de todas as bibliotecas do mundo inteiro. Na era da internet, qualquer pessoa, de qualquer lugar, pode explorar esse repositório único.
Nunca as idéias foram disseminadas com tanta rapidez, seja para fins comerciais, educativos ou por mero prazer. Os computadores são o centro da cultura moderna.
Sem a escrita e sem esse poder de armazenar conhecimento, onde será que nós estaríamos ? A resposta é: na idade da pedra, pois os humanos daquela época e os humanos de hoje são exatamente iguais. Na Idade da Pedra os humanos já eram tão inteligentes quanto nós. Tirando o nosso aparato tecnológico, no fundo, todos continuamos sendo os mesmos homens das cavernas. Isto porque nossos genes não mudaram nada. Logo, bebês das duas eras, se pudessem ser colocados juntos, seriam indistinguíveis geneticamente, ou seja, possuem a mesma composição genética.
Além disso, a atualidade evidencia que a evolução cultural tende a acelerar cada vez mais. Contudo, o mais surpreendente desta história é que nós humanos conquistamos, pela primeira vez na história, o poder de controlar a nossa evolução e o nosso futuro biológico.
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