domingo, 1 de julho de 2007

USP é a melhor da América Latina

Ranking da Universidade Xangai Jiao Tong, na China, coloca instituição em 134.º entre 500.

Renata Cafardo - Estadão Online

Durante os 50 dias de ocupação da reitoria da Universidade de São Paulo (USP), encerrada há pouco mais de uma semana, os estudantes tomaram conta não só da sede administrativa de uma das maiores universidades do País, mas também de uma das instituições mais prestigiadas do mundo. Na classificação mais recente feita pelo Instituto de Altos Estudos da Universidade Xangai Jiao Tong, na China, a USP aparece em 134º lugar entre 500 instituições internacionais. Há só universidades americanas, inglesas e canadenses mais bem posicionadas que a USP. A brasileira ganha das latino-americanas, espanholas, chinesas e sul-coreanas.

O ranking de Xangai, segundo especialistas, é um dos mais respeitados atualmente quando se fala em produção científica das instituições. A mais bem qualificada é a Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com pesquisadores que venceram 43 vezes o Prêmio Nobel. A premiação é um dos critérios para ganhar pontos no ranking, assim como o número de artigos de pesquisadores publicados em revistas científicas, como Nature, Science e outras citações.

“A USP é uma instituição que tem pesquisa em quase todas as áreas do conhecimento”, diz o pró-reitor de Pós-Graduação da instituição, Armando Corbani Ferraz, explicando a posição no ranking. Sem poder entrar na sua sala na reitoria durante a ocupação, Ferraz lamenta a perda de convênios internacionais no período. “O intercâmbio entre doutores ou alunos de outros países tem sido muito salutar para a USP.”

As duas outras instituições públicas paulistas, menores e mais novas que a USP, também aparecem no ranking da Universidade de Xangai. A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é a 312ª colocada. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) é a última das latino-americanas, na 480ª posição. A colocação, no entanto, não é demérito, já que a maioria das instituições brasileiras sequer é mencionada no ranking. A única outra brasileira, fora as paulistas, é a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na 348ª colocação.

Para o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, a tão falada autonomia, conseguida em 1989, foi a grande responsável pelo crescente sucesso das três paulistas. “A autonomia trouxe responsabilidade para administrar os recursos e gerou mecanismos para otimizar nosso trabalho”, diz. Nos últimos anos, as universidades aumentaram todos os seus índices, inclusive a quantidade de vagas - hoje há pelo menos 30% mais lugares disponíveis nas três instituições.

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Essa notícia é boa. E como não poderia faltar, os reacionários aproveitaram o ensejo para falar mal da ocupação. Se dependesse desses reacionários nós ainda estaríamos andando por aí de cipó e enviando email via pombo-correio.

Inclusive eu me lembro de uma entrevista do Prof. Schenberg na qual ele conta que um grupo de professores da USP, certamente congregando os reacionários, recusava-se a aceitar a instalação de computadores na Universidade. Vejam só: os reacionários não queriam que fossem instalados computadores na USP. Porém, como sempre, eles perderam e a história avançou, mas se dependesse deles nós ainda estaríamos na idade da pedra. (Clique aqui para ler a entrevista)

Se não fosse a ocupação os decretos estariam em vigor, o Pinóquio mandando na USP, na Unesp e na Unicamp, não teríamos conseguido mais um bloco no CRUSP, etc. Portanto, o Movimento de Ocupação trouxe benefícios para todos, tanto alunos, quanto funcionários e professores, mas principalmente para a sociedade e para a coletividade estudantil.

Certamente, aqueles que lutaram contra a ocupação deveriam fazer uma carta renunciando expressamente aos benefícios que esse movimento trouxe para a Universidade. Isso seria lógico e coerente, diria o vulcaniano SPOCk. Mas, como a hipocrisia humana, os que lutaram contra a ocupação serão os primeiros a se regalarem com seus frutos...

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Parte da Entrevista na qual o Prof. Schenberg fala dos computadores:

Ao voltar, o senhor se viu comprometido com a implantação do ensino e da pesquisa em Física em São Paulo...


Nessa época, o Marcelo Damy era o diretor do departamento de Física. O Paulus Pompéia também foi diretor. Primeiro a Física funcionou na sede da Politécnica, na rua Três Rios, depois foi para uma casa velha na rua Tiradentes, e mais tarde para a avenida Brigadeiro, depois para a Maria Antônia e, finalmente, passamos para a Cidade Universitária. Nunca quis exercer cargos administrativos; só aceitei após ter voltado da segunda viagem à Europa, já em 1953. Aí fiquei como diretor do Departamento de Física até 1961.

Contribui para fazer várias modificações, e fui muito auxiliado pelo reitor, doutor Ulhoa Cintra. Sem a sua ajuda não conseguiríamos fundar o laboratório de Física do Estado Sólido, e isso foi importante. Todo o pessoal do departamento ia só para a Física nuclear, mas eu tinha uma divergência de opinião muito grande, tecnológica, com o pessoal do departamento de Física. Eles achavam que ia haver um revolução industrial, e que essa revolução ia ter por base a energia nuclear. Eu achava que vinha realmente uma revolução industrial, mas não baseada na energia nuclear, e sim na informática, na eletrônica.

Por isso, achava que se tinha que desenvolver a Física do estado sólido. Ninguém no Brasil entendia disso. Já havia alguns grupos, como os liderados por Bernard Gross e Joaquim Costa Ribeiro, mas eram grupos pequenos. Tentaram também iniciar um trabalho em São José dos Campos, mas não deu certo.

O nosso programa foi feito com recursos maiores, de origem federal. Quem me ajudou muito foi o então deputado Ulysses Guimarães. Enquanto todo mundo achava que o futuro seria a Física nuclear, eu não só incentivei a Física do estado sólido, como fiz o reitor, doutor Ulhoa Cintra, comprar o primeiro computador aqui da USP, um IBM. Mas precisei enfrentar uma oposição forte. Até os professores Oscar Sala e Carlos Gomes tentaram me dissuadir da idéia de comprar um computador. Diziam que em Boston não havia..

Os físicos eram contra os computadores; não enxergavam que eles iam revolucionar a ciência. E como ocorreu a respeito da política nuclear brasileira. No começo, você contava nos dedos quantos estavam realmente contra: um desastre econômico, e o pessoal não se dava conta disso. Os físicos brasileiros não têm muita intuição no que diz respeito ao sentido em que a tecnologia se desenvolve. Há uma falta de senso de realidade econômica, por erro de formação.

Em relação à energia nuclear, isso foi claro: não há dúvida de que o reator nuclear não pode competir de modo nenhum com a energia hidrelétrica. O cálculo do potencial hidrelétrico que as pessoas faziam era absurdo. A energia nuclear poderia competir com a energia da queima do petróleo, mas não com a hidrelétrica. Confundiram as coisas, achando que a energia nuclear sairia mais barata que a hidrelétrica.

Os físicos achavam que era na área da Física nuclear que iria ocorrer uma nova revolução industrial, e que as outras áreas eram teóricas. Não compreendiam que os raios cósmicos foram a primeira fonte de partículas de alta energia — só depois é que vieram os aceleradores — e neles estava a questão da estrutura da matéria Era falta de Intuição sobre os caminhos que a Física iria seguir. A Física nuclear ficou sendo um ramo secundário, e só escaparia disso se se tornasse tecnologicamente importante. Importante era a Física das partículas elementares, e não a Física nuclear propriamente dita. Os fundadores da Física experimental no Brasil viram as coisas com certas limitações, sem muita amplitude. Ficaram fascinados com a energia nuclear.

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