segunda-feira, 9 de julho de 2007

As corporações não querem os biocombustíveis

Nós somos um país subdesenvolvido porque as nossas riquezas foram roubadas durante a colonização do país. Carregaram o máximo que puderam e utilizaram o nosso ouro para se desenvolveram e se transformarem em países de primeiro mundo, países desenvolvidos.

Agora nós descobrimos uma nova mina de ouro. Uma mina de ouro da energia, os biocombustíveis, e muitos se levantam para tentar nos impedir de fazer uso desse ouro. Não querem o nosso desenvolvimento. Não querem ver o nosso crescimento, menos ainda a nossa chegada no clube de países ricos e desenvolvidos. Querem que continuemos pobres e que deixemos nossas minas de ouro guardadas até que eles descubram um meio seguro para tomá-la de nós.

Alguns países se recusam, terminantemente, a ratificar os acordos internacionais de controle da poluição alegando direito ao desenvolvimento, ou seja, a forma de desenvolvimento que eles utilizam é suja, poluidora e destruidora. Nós queremos explorar e vender os biocombustíveis porque essa é a nossa forma de desenvolvimento. Uma forma de desenvolvimento limpa e segura, desde que determinadas técnicas de controle sejam observadas.

Refiro-me à produção de alimentos e ao uso de trabalho escravo nos canaviais. Não digo isso porque ouvi dizer. Digo isso porque existem pessoas da minha família que trabalharam nos canaviais do Paraná. Portanto, sei do que estou falando. E se não acreditam nisso, basta ir até um canavial e perguntar aos trabalhadores sobre a produção diária e quanto recebem por isso.

Esse perigo existe e é real, mas pode ser controlado por meio de normas e mecanismos concretos e confiáveis de controle da produção de biocombustível. Contudo, o governo ao invés de reconhecer o problema e criar rapidamente essas normas e esses mecanismos prefere ficar resmungando e falando besteira. Basta criar normas e mecanismos que impeçam o avanço dos canaviais sobre as áreas de alimentos e que inibam o trabalho escravo nessas plantações para que o problema se resolva e acabe quaisquer visões negativas sobre o assunto.

Contudo, o falatório do governo alimenta o discurso das corporações que querem tomar conta dos biocombustíveis e monopolizar a sua produção e distribuição. Grandes corporações querem dominar completamente esse mercado, igual fizeram com o petróleo. Por isso, atacam e descaracterizam os biocombustíveis. Eles querem o controle do negócio. Eles querem os lucros que esse negócio pode gerar. Querem centralizar e monopolizar a produção e distribuição nas mãos de poucos, nas mãos de pequenos grupos dominantes. Por isso, querem tirar a coletividade de lado. Querem que os pequenos produtores rurais de matéria-prima saiam do caminho do agronegócio.

Portanto, a coletividade dever ficar em alerta e de orelha em pé, observando a movimentação do que está acontecendo e aquilo que estão falando por aí, principalmente na mídia. E digo mais, não se enganem com a mídia, pois as corporações multinacionais controlam todas elas por meio das verbas publicitárias.

E se não acredita em mim, veja o documentário "A corporação", assim você perceberá o tamanho do poder dessas organizações e a sua capacidade de manipulação das informações e dos governos e corrupção das Democracias e das Repúblicas. Veja o documentário, eu recomendo.

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Noam Chomsky fala das corporações

Texto original

Origem, evolução e prognóstico das corporações

Noam Chomsky diz que as corporações são pessoas sem valores morais que visam somente os interesses de seus acionistas. Seguindo essa afirmação, quem deve ser a consciência dessas empresas: a opinião pública ou o Estado? Por quê?

Eu colocaria a palavra “pessoas” entre aspas em relação ao estado legal das grandes corporações nesse contexto. O ponto de vista de Noam é claro. As corporações não podem ter uma consciência. Essas entidades não são humanas e suas prioridades são ditadas pela lei. Milton Friedman sugere que os valores morais das corporações devem vir dos indivíduos das companhias, mas as pessoas são, geralmente, confrontadas por escolhas conflitantes quando executam seus papéis na estrutura das grandes empresas. Sam Gibara, da Goodyear, descreve como o seu papel na corporação excede o seu próprio sistema de valores – e faz piada de como é bem pago para fazer isso.


A opinião pública expressará preocupação moral quando for motivada e isso é uma resposta apropriada, dado os abusos ultrajantes de pessoas, animais e da natureza por parte de algumas corporações. Mas a forma mais democrática de controle é através do Estado – até onde ele puder ser descrito como democrático. Por fim, somos confrontados com a tentativa de controlar uma instituição não democrática via meios democráticos. O problema está tanto na essência da estrutura corporativa – que copia o fascismo – quanto no Estado que é suscetível à corrupção e a outras influências não democráticas.

Como o senhor vê o enfraquecimento do Estado perante as corporações? Não é paradoxal falarmos em retomada de controle do governo diante da atual tendência de privatizações?

Apesar de parecer paradoxal, não precisa continuar assim, a não ser que desistamos da democracia. O Estado é a única instituição cujo poder legal excede o das corporações. É uma questão de eleger pessoas e partidos que exercerão o poder para o benefício da população geral, e não de acionistas de grandes empresas.

Tirania contradiz, teoricamente, o espírito democrático. No entanto, quando pensamos nos abusos cometidos pelas corporações, cujos interesses estão acima do bem público, não podemos ver nesse poder quase ilimitado a falência do modelo democrático neoliberal?

Sim, apesar de não acreditar que o modelo neoliberal tenha tido um balanço positivo. Em sua aplicação internacional, a frase “democracia neoliberal” soa contraditória. Esse termo é usado para uma aplicação estadunidense, o que incorpora, a meu ver, valores liberais. Em todo o caso, eu acrescentaria que tirania contradiz o espírito democrático de fato, não só teoricamente.

Os interesses de uma corporação só dizem respeito ao Estado enquanto esse possibilita ou inibe a geração de grandes lucros para aquela empresa. Democracia é, geralmente, um obstáculo à geração de lucro e as corporações procurarão contornar, acordar com ou destruir qualquer obstáculo ao lucro. O fato de que os “Estados democráticos” tenham apoiado a expansão do poder das grandes corporações deveria nos levar a questionar a natureza do que consideramos Estados democráticos.

Como o cidadão comum poderá se salvaguardar das “externalidades negativas” quando o maior meio de informação, a televisão, faz parte desses jogos de interesses?

Educação. Alfabetização midiática o mais cedo possível. Internet. Mídia independente. Autodefesa intelectual. Chomsky foi questionado, no filme Manufactoring Consent, a respeito de como a mídia pode ser mais democrática. Ele respondeu: “isto é a mesma coisa que perguntar: como tornar as corporações mais democráticas?”. E ele disse: “a única maneira de fazer isso é se livrando delas”.

Em sua opinião, a que se deve o crescente interesse do público pelo documentário?

As pessoas percebem que há muito mais acontecendo no mundo do que a mídia elitista e mainstream descreve. Elas sabem que há análises que fazem mais sentido e têm mais relevância para suas vidas do que aquelas apresentadas pela mídia. E uma vez que alguém formula uma análise alternativa de forma atrativa, a idéia se espalha. Eu já vi isso acontecer duas vezes, primeiro com o filme Manufactoring Consent: Noam Chomsky and the Media e agora com The Corporation. O Canadá é um país com uma forte tradição de documentários e os dois filmes citados foram os maiores sucessos na história do país no gênero documentário. Uma vez ou outra, filmes como o meu, e outras críticas radicais, irão parar na TV comercial se for claro que terão audiência e, principalmente, se forem capazes de gerar dólares. Mas cada vez mais, mídias interessadas no lucro verão possibilidades de ganhos nesses documentários e, assim, eles terão que ser mais criativos para atingir o público. Em contrapartida, o público tem que se esforçar e ver esses filmes, ou simplesmente nada funcionará.

Michael Moore diz que um filme pode mobilizar a sociedade. Você acredita neste poder? Quais foram as reações do público ao The Corporation na América do Norte?

Uma maneira de começar a medir o impacto de um documentário é verificando o tamanho de seu público. Aqui, Michael Moore é um universo à parte. No entanto, The Corporation faturou mais de 4 milhões de dólares de bilheteria nos EUA e Canadá (*). O filme foi visto em cinemas comerciais e por mais de cinco meses em complexos de dez salas em grandes centros. Cinco meses! Isso é um recorde. Um público desse não é composto apenas por anarquistas radicais. Com certeza atingiu muito além!

Mais de 500 mil cópias foram baixadas ilegalmente via Internet. Mais de 100 mil DVDs foram vendidos na América do Norte, mais de 1.500 comprados por instituições educacionais e vários outros DVDs estão sendo usados por professores. Muitas escolas de administração – provavelmente a maioria – estão usando o filme também.

Mas, fora os números, eu posso contar algumas reações do público. Eu acabei de voltar da pequena cidade de Essex (Ontário). Ao longo do último ano, um professor incluiu The Corporation na grade curricular dos alunos de 13 anos. O autor do livro e do filme, Joel Bakan, e eu fomos conversar com os alunos e ver como o filme estava sendo usado. O nível de preocupação, compreensão e otimismo, mas também cinismo, dessas crianças foi uma grande surpresa. Nós filmamos tudo e vamos desenvolver um material em vídeo e impresso para outros educadores trabalharem com jovens. Eu recebo cartas de pessoas da área de negócios que abandonaram seus trabalhos em empresas grandes, corruptas e poluentes (essa descrição é deles e não minha) depois de ver The Corporation. A legislação em níveis municipais e estaduais nos EUA tem mudado como resposta ao filme. Leis que retiram das empresas direitos associados ao status de “pessoa” foram votadas e as pessoas que formulam a legislação citam o filme como inspiração inicial.

Esta carta chegou ontem do México:

“Olá! Eu acabei de ver seu documentário The Corporation e fiquei chocado. Eu sempre suspeitei que todas as grandes empresas eram as verdadeiras mãos por trás do boneco chamado governo. Eu pulei do sofá assim que o filme acabou e vim aqui escrever porque eu não vou deixar o dinheiro governar minha vida. Estou pensando em pegar todo o meu dinheiro e doar para uma comunidade em Tulum que protege as tartarugas, mas além disso eu vou me mudar para lá e lutar contra qualquer um que tentar interferir na vida dessas criaturas. Eu sei que isso não é muito, mas é por mim. Parabéns por me fazer mudar esse egocêntrico modo de vida. Grande abraço daqui do México.”

Sim, documentários podem mudar os indivíduos. E talvez estes possam mudar o mundo. Se essa mudança pode ser rápida o suficiente, é uma outra pergunta.

* Por favor, não confundam “faturado” com “lucro”. Lucro é o que sobra depois das despesas serem pagas. Apesar do faturado com a bilheteria eu já estive para falir, mesmo com o The Corporation. Muita gente leva uma parte do lucro antes de mim.

Tradução de Anderson Vitorino

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