sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

Escola privada amplia domínio na Fuvest
FÁBIO TAKAHASHI -
SIMONE HARNIK - da Folha de S.Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18374.shtml

O número de aprovados da rede particular no vestibular deste ano da Fuvest é o maior desde 2001, apesar das iniciativas tomadas pela fundação e pela USP para tentar aumentar a proporção de alunos da escola pública na universidade.

No processo seletivo 2006 da Fuvest --que seleciona para a USP, Santa Casa e Academia do Barro Branco--, 73,2% dos chamados para a matrícula fizeram o ensino médio integralmente em colégios particulares. O número é o maior desde 2001, quando foi de 74,1%. Em 2005, ficou em 71,9%.

Apesar de a variação percentual no período ser relativamente pequena, isso mostra que as políticas de inclusão social adotadas até agora tiveram pouco efeito.

De 2001 para cá, a USP criou um campus na zona leste da capital paulista (inaugurado em 2005), o que aproximou a universidade de uma região de baixa renda.

Além disso, a Fuvest aumentou de 10 mil para 65 mil o número de isenções da taxa de inscrição no vestibular (neste ano, custou R$ 105, incluindo manual).

Com isso, a proporção de inscritos provenientes da escola pública subiu 8,2%, entre os vestibulares 2005 e o 2006. O crescimento, porém, não resultou em mais aprovações desses alunos --houve queda de 7,9%.

"A única maneira de explicar esse fenômeno é estimar que o nível da escola pública continua caindo", diz o coordenador da Fuvest, Roberto Costa.

Para ele, se forem mantidas as características do processo seletivo, a rede particular continuará prevalecendo nas listas de aprovação. "Como o exame avalia o conteúdo, é difícil mudar o perfil dos aprovados." A universidade possui um grupo de trabalho que analisa a possibilidade de mudar o vestibular. Um relatório foi feito e aguarda votação.

Para a pró-reitora de graduação da USP, Selma Garrido Pimenta, as medidas tomadas até agora pela universidade "estão surtindo efeito, mas o resultado não se faz presente imediatamente".

Ela diz ainda que o aumento do ingresso de alunos da escola pública também é responsabilidade do governo estadual e da comunidade, para que haja uma melhoria na educação pública. "As porcentagens têm sido pequenas também como resultado da desqualificação geral que o ensino sofreu nestes últimos 20 anos."

Para a professora de pós-graduação da Faculdade de Educação da PUC-SP Isabel Franchi Cappelletti, o menor índice de aprovação de alunos do sistema público não está relacionado apenas à qualidade dessa rede. "Temos de lembrar que estudantes de escolas públicas não estão acostumados com avaliações como a da Fuvest, ao contrário dos estudantes das particulares."

Já a professora de metodologia de ensino da Faculdade de Educação da USP Nídia Nacib Pontuschka diz que "são muitos itens que devem ser considerados, desde a desvalorização da escola pública até o formato do vestibular".

Atualmente, 85% dos estudantes do ensino médio do Estado cursam a rede pública, mas em geral eles são menos de 30% dos aprovados na USP.

Cotas

Para Thiago Tobias, assessor da ONG Educafro, a única forma de aumentar a inclusão seria com a adoção de ações afirmativas, como as cotas --medida que a universidade entende que pode baixar seu nível de ensino.

"É um contra-senso tremendo. A USP comemora o aumento de alunos carentes fazendo vestibular e os condena à decepção", afirma Tobias.

O coordenador do MSU (Movimento dos Sem Universidade), Sérgio Custódio, critica a prova de inglês da Fuvest. "Ela tem um nível de doutorado, sendo que está trabalhando com alunos que possuem nível do verbo "to be"."

Vanessa Cristina de Alvarenga, 20, foi um dos vestibulandos que conseguiram isenção, mas não foram aprovados. "A prova é muito difícil, com coisas próprias pra cursinhos. Tem muitas pegadinhas, é aquela velha decoreba. No fim das contas, é um vestibular que é medido por condições financeiras e exclui de toda a forma os alunos da rede pública."

Colaborou DANIELA TÓFOLI, da Reportagem Local

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