segunda-feira, 25 de maio de 2009

O Problema Social
Muitos governantes tratam os problemas sociais com desleixo e desdém. Atribuem pouca importância, usam apenas paliativo ao invés de resolvê-los definitivamente, etc... Inegavelmente, governantes que agem dessa forma possuem pouca sabedoria e entendimento. Dirigem os governados e as respectivas nações para o abismo.

Observem que grandes impérios e civilizações, ao longo da história da humanidade, sucumbiram por causa de problemas sociais. É só fazer uma pesquisa um pouco aprofundada para se encontrar questões sociais enfraquecendo, dividindo, afundando impérios e civilizações. Inclusive, atualmente, muitas nações poderosas correm o risco de desaparecer, caso não resolvem os graves problemas sociais que enfrentam.

Inclusive, a mensagem dos Profetas Bíblicos batem forte contra a indiferença dos governantes diante dos problemas sociais.

Nesse sentido, Hans Borger, autor da Obra "Uma história do Povo Judeu" (Editora: Sêfer Ltda - 1999) diz:

"Na base da mensagem do profeta de Israel está o domínio universal da justiça, da justiça social entre os homens e da justiça pública no convívio entre as nações. Todos, indivíduos ou povos, estão sempre submetidos ao juízo do eternamente Justo, Javé, o Protetor dos pobres, dos órfãos e das viúvas, nunca dos ricos e famosos. Por acostumar-se a ver nos males econômicos a raiz da decadência das nações, sucumbe-se facilmente à tentação de perceber os profetas vestidos de visionários da redenção da humanidade por intermédio de plataformas sociais. É uma linguagem sem dúvida sedutora, mas não se pode transformar Amós em precursor de Marx sem privar a mensagem profética de sua inalienável dimensão religiosa."

Sobre Amós
Uma história do Povo Judeu - Hans Borger - Editora Sêfer - 1999 p. 99-101

Durante o reinado de Uzias, em Judá, e o de Jeroboam II na Samária, isto é, por volta do ano 740, surge o primeiro dos grandes profetas literários de Israel. Amós é um simples pastor do vilarejo de Tekoa, a meio caminho entre Jerusalém e Hebron. Impulsionado por uma força que ele mesmo não sabe exatamente como definir, larga um dia o seu rebanho e põe-se a caminhar até chegar a Bet-El, o principal centro religioso da Samária.

O ambiente festivo com que se depara no pátio do santuário, os sacerdotes ricamente vestidos aguardando para dar início à oferenda dos sacrifícios, a música solene, os cânticos piedosos, a pompa, as pessoas aparentando despreocupação, satisfeitos consigo mesmos - tudo isso, no ver de Amós, está profundamente errado. A religião institucionalizada causa-lhe repúdio, cultos sem conteúdo são um insulto a Deus, sacrifícios, enquanto pobres passam fome, são uma indignidade.

Lentamente Amós abre caminho por entre a multidão, sobe as escadarias até um lugar onde todos o podem ver, levanta os braços e sua voz rompe o ar com uma eloqüência que abre um capítulo novo na história dos homens.

"Ouví, eis assim que diz o Senhor à casa de Israel:
Porque oprimis o pobre e lhe extorquis tributos,
não habitareis estes palácios de pedra
e não bebereis o vinho das vinhas que plantastes.
Sois opressores do justo,
e violadores do direito dos pobres em juízo.
Eu odeio, desprezo vossas festas,
não quero sacrifícios nem holocaustos,
mas quero que jorre o direito como uma fonte
e a justiça como um rio poderoso." (Am. 5)


Não é só contra os profissionais do culto que Amós levanta sua crítica; ele exige uma expressão religiosa acima do ritual e do cerimonial, exige que todos participem igualmente de responsabilidades e conseqüências, pois todos foram libertados do Egito e todos conhecem a Lei:

"Porque vendeis o justo por dinheiro
e o pobre por um par de sandálias,
porque o filho e o pai tomam a mesma moça
para dormir com ela,
porque deitam ao pé do altar sobre roupas empenhadas
e bebem no Templo o vinho feito por condenados:
Mas EU, Eu tirei-vos do Egito,
Eu conduzi-vos pelo deserto,
Eu vos dei a posse da terra dos amorreus,
Eu suscitei profetas entre vós,
pois bem, eis o que Eu vou fazer:
Vou fazer-vos ranger como um carro de feno carregado,
não haverá fuga para o ágil, o forte não terá força,
nem o de pés ligeiros escapará, nu fugireis naquele dia." (Am.2)


Amós ignora quase totalmente a idolatria como problema nacional. É a injustiça que domina seu discurso, o abismo entre pobres e ricos. Ele teme pelo destino coletivo, "porque entre todos os povos da terra, só a vós conheci" (3:2) Teme pelo destino nacional porque "desprezaram a Lei do Senhor e não observaram seus mandamentos."(2:4) os líderes de Israel, tanto da Samária como de Judá, todos os que exercem o poder, devem juntar-se ao povo e arrepender-se, "buscar o bem e não o mal, fazer reinar a justiça e talvez o Senhor Deus terá piedade." (5:15) A insensibilidade dos que têm mando sobre o problema social urbano é castigada com palavras que nada perderam de sua atualidade:

"Vides quanta desordem há nesta cidade ?
Quanta violência ?
Não sabem fazer o que é honesto
e amontoam o roubo em seus palácios.
Ai dos que vivem comodamente em Sion
e tranquilamente na Samária,
os nobres, os líderes do povo,
deitados em camas de marfim,
comem cordeiros e novilhos e bebem vinho de
grandes taças: Pois, serão os primeiros a serem deportados !" (Am. 3:6)


A ruptura com os ricos e poderosos, os que estão no comando da sociedade ("eu desprezo vossas festas") leva o sacerdote Amazias a ir finalmente ao rei para dar queixa do subversivo: "Amós conspira contra ti no meio do povo - o país não pode mais suportar estes discursos." (Am. 7:10) Estranhamente, não ficou registrado o que Jeroboam teria respondido. Já que o sacerdote não ousa agir fisicamente contra o profeta, decide expulsá-lo: "Vai-te daqui, vidente, volta para a tua terra e não profetizes mais em Bet-El." (Am. 8:12) Amós responde-lhe: "Eu não sou profeta nem filho de profetas, sou um pastor. Mas, Ele me tirou de trás do meu rebanho:

Quando o Leão ruge - quem não teme?
E falando Ele, o Eterno, quem não se inspira ?" (Am.3:8)

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