Leonildo Correa - 01/0/2007
Não há nada, absolutamente nada, na USP que possa ser comparado com esse Projeto OCW-USP.
Eu vou contar uma coisa. Esse Projeto OCW-USP já foi apresentado para a USP uma vez. Foi apresentado cerca de um ano ou um ano e meio antes do MIT criar o seu Projeto OCW. Eu e mais um colega da Faculdade de Direito, hoje Professor da USP na Faculdade de Saúde Pública (Arthur B. de Vasconcellos Weintraub) protocolamos em 2000 ou 2001, não me lembro ao certo, na Pró-Reitoria de Graduação da USP, uma versão piloto da idéia OCW. Não só na Pró-Reitoria, mas buscamos apoio também na Fundação Arcadas da Faculdade de Direito.
Resumindo a história, a USP poderia ter sido pioneira, pioneiríssima, na criação e desenvolvimento da idéia de Projetos OCW no mundo em cerca de um ano ou um ano e meio antes do MIT. Mas, não nos ouviram e nos ignoraram. Por isso perdemos a dianteira e fomos ultrapassados pelo MIT em 2002. Se não acreditam nisso revirem os arquivos da Pró-Reitoria de Graduação e da Fundação Arcadas que irão encontrar cópias dos Projetos que enviamos. Além disso, eu tenho guardado, não sei onde, os protocolos que recebemos na época.
Contudo, esse primeiro acontecimento foi importante, pois nos ensinou uma coisa: as iniciativas institucionais não funcionam em projetos inovadores. E se você deixar por conta da vontade dos professores e servidores públicos não sai nada, como aconteceu no primeiro projeto. Por isso criamos uma ONG para implementar e desenvolver o Projeto OCW-USP. E dessa vez as coisas não ficarão estagnadas e esquecidas como ficaram em 2000 ou 2001.
Tudo o que a USP fez pela coletividade, ao longo dos últimos tempo, foi restrito, limitado e fechado. O máximo de pessoas que conseguiram atingir foi com as isenções da Fuvest. Isenções que não deram resultados práticos e não repercutiram, pois não adianta dar isenção para quem não vai passar no vestibular. Eles sabem que alunos de escolas públicas tem poucas chances, mesmo assim dão as isenções para enganar a coletividade, transferindo a culpa para o aluno, pois dizem: "Nós demos as isenções. Fizemos a nossa parte. Se não passou é porque é incompetente". Com isso, cruzam os braços e não fazem nada para mudar o sistema perverso e excludente que é a Universidade Pública hoje, principalmente a USP, jogando toda a culpa no ensino público.
Portanto, não há nada nesta Universidade que possa ser comparado com esse projeto OCW-USP em termos de repercussão social e grandeza.
Mas, como é um projeto de aluno e não de professor, querem descaracterizá-lo, minimizá-lo, reduzi-lo a pó, assim o sistema perverso e excludente continua valendo. O conhecimento continua retido e eles continuam vendendo e privatizando a USP com suas Fundações. Fundações que chegam a cobrar mais de vinte mil reais, por aluno, por cursos que ministram dentro da USP, usando os recursos da USP, as salas de aula da USP, as bibliotecas da USP, os livros da USP, os professores da USP, etc. Mesmo assim insistem em dizer que não é um curso da USP.
Hoje estão tentando reduzir a relevância do Projeto OCW-USP e desviar as atenções do público. Para isso tentam mostrar as insignificâncias que fizeram nas últimas décadas, coisas irrelevantes, projetos que não funcionam, idéias que não repercutem ou não podem ser implementadas em larga escala. Querem fazer, como fizeram em 2000 ou 2001, que o Projeto seja abandonado e esquecido. Mas isso não vai acontecer.
Não só isso, a maioria das pessoas que criticam esse Projeto OCW-USP tem interesses econômicos na jogada, são donos de cursinhos (Professor da USP e dono de cursinho...), ou então, estão fazendo fortuna com as Fundações, ou ainda, ganham de alguma forma com a monopolização e retenção do conhecimento e dos saberes dentro da USP. Querem manter a Universidade fechada e restrita para continuarem dominando.
De repente começaram a falar de cursos a distância. Contudo, não abordam e não resolvem as questões que antecedem os cursos a distância. Por exemplo, qual será o critérios de seleção dos alunos que farão esses cursos (Acesso via vestibular ?), esses cursos vão emitir diplomas da USP (Esses diplomas terão o mesmo valor dos cursos presenciais ?), quantos alunos farão esses cursos ? Como serão as avaliações desses cursos ? Quais são esses cursos a distância ?
Hoje existem alguns cursos a distância sendo ministrados pela USP. Contudo, esses cursos não democratizam e não socializam nada. Continuam sendo cursos fechados, excludentes e limitados. Poucos tem acesso e poucos fazem esses cursos. Principalmente, porque os temas desses cursos são excessivamente específicos.
Resumindo, existem uma série de questões que devem ser resolvidas antes de se implementar um curso a distância. Mas o mais importante é observar que cursos a distância não democratizam o conhecimento e não socializam os saberes, apenas transferem para a internet o modelo excludentes e fechado dos cursos presenciais. Continuam sendo cursos e conhecimentos exclusivos da panelinha, ou panelona, da classe dominante.
Portanto, a USP pode lançar quantos cursos a distância quiser e, mesmo assim, não democratizará o conhecimento e nem socializará os saberes que estão retidos na Universidade. Sem contar que os cursos a distância atuais são tão específicos que ninguém pouquíssimos irão querer fazê-los.
Logo, é necessário que o Projeto OCW-USP também envolva os cursos a distância e libere seus conteúdos para toda a coletividade, para toda a população brasileira, ou seja, é necessário que o Projeto OCW-USP democratize o conhecimento e socialize os saberes retidos e monopolizados nesses cursos a distância.
A diferença entre o Projeto OCW-USP e um curso a distância é que o Projeto OCW-USP é aberto para toda a coletividade. Não só isso, é um projeto que envolve todos os cursos presenciais da USP. Portanto, quaisquer profissionais, alunos ou cidadãos encontrarão no Projeto OCW-USP o conhecimento que lhes interessam, aquilo que precisam saber ou estudar.
O Projeto OCW-USP envolve o conhecimento e os saberes como um todo, todas as áreas, todas as técnicas, todos os métodos. O Projeto OCW-USP democratiza e socializa tudo. Tudo estará disponível e tudo será disponibilizado. Só não vai aprender quem não quiser aprender. Só não vai saber quem não quiser saber. Já os cursos a distância continuam sendo cursos restritos e específicos, limitados nos temas e de interesse apenas de grupos seletos (temas limitados).
Mas o que mais me surpreende, em toda essa história, é a falta de visão das pessoas que fazem os projetos de extensão da USP. Criam políticas de pseudo-inclusão, não para resolver o problema de acesso ou para democratizar a USP, mas sim para enganar a coletividade e garantir a continuidade da exclusão na Universidade. Eu não sei se fazem isso de má fé ou se fazem na ingenuidade, mas que fazem coisas absurdas, isso fazem. Criaram mais um cursinho pré-vestibular para substituir o sistema de cotas, ou seja, tentam resolver o problema dos cursinhos criando mais um cursinho. Dão isenção de taxas para alunos que não passam no vestibular. Aumentam 3% a nota de quem precisa de um aumento de 70% para conseguir entrar na USP. É o tal do muda tudo para não mudar nada.
O problema, dizem eles, é a escola pública, não a USP. Mas eu digo que o problema também é a USP. Temos mecanismos e meios que podemos utilizar para melhorar a escola pública e o Brasil e não utilizam. Poderiam utilizar a nossa melhor matéria-prima, o conhecimento e os saberes, para catalisar desenvolvimento, gerar competências, fundamentar novas idéias, trazer inovações etc e simplesmente não fazem nada, se omitem. Ficam olhando para cima e fingindo que não tem nada a ver com isso. Mas não se omitem por preguiça ou desmazelo. Omitem-se por interesse, querem monopolizar e reter o conhecimento para continuar dominando a coletividade, manter o status quo, continuarem se enriquecendo às custas do patrimônio público. Querem monopolizar e reter para garantir a perpetuação das estruturas de poder que estão em vigor na sociedade.
O Projeto OCW-SP não é um curso a distância. Não emite diploma. Não será fechado. Não será limitado. É um projeto para a coletividade e para todos os brasileiros, assim como para os demais países da língua portuguesa e, inclusive, latino-americanos, pois pretendemos traduzir os materiais para o espanhol, visando a integração de conhecimento na América Latina.
Além disso, antes que manejem o instituto dos direitos autorais contra esse projeto, eu pergunto: Depois da aula o professor passa de carteira em carteira recebendo dos alunos os direitos autorais pela aula que ele acabou de ministrar ? Você já viu algum professor fazer isso em algum lugar ? E por que é que ele não faz isso ?
Não faz porque ele recebe um salário para ministrar as aulas. O serviço dele é dar aulas. A coletividade paga para ele dar aulas. Tem professor que dá outras coisas, mas vamos ficar nas aulas... Um salário que é pago com recursos públicos, dinheiro de impostos.
É válido ressaltar ainda que os direitos autorais das aulas continuam pertencendo ao Professor. Ele ministrou as aulas. É o nome dele que constam em todas as aulas. É ele que receberá todos os créditos pelas aulas, pela disciplina e pelo curso. O Projeto OCW-USP apenas otimiza essas aulas e faz com que elas, ao invés de chegar apenas a uma centena de alunos, chegue a milhões de pessoas. Isso é maximização de resultados, maximização dos recursos públicos.
É válido assinalar ainda que o Projeto OCW-USP é open e free. O conhecimento e os saberes serão democratizados e socializados gratuitamente. O Instituto OCW Br@sil é impedido, por seu Estatuto, de cobrar ou exigir quaisquer tipos de contraprestação dos internautas. Quem pagará pela implementação do Projeto é o Estado e as empresas privadas, mas principalmente o Estado, que tem a obrigação de financiar e implementar iniciativa que alavanquem o desenvolvimento social e econômico do país.
Enfim, esse Projeto OCW-USP é de fundamental importância para a USP, para o Brasil e para o povo brasileiro. È um projeto que beneficiará toda a coletividade. Portanto, é um Projeto que deverá receber o apoio máximo da USP e das autoridades públicas. Logo, a melhor decisão é deixar o Projeto seguir sem empecilhos e sem burocracia, pois todos ganham com isso. Se começarem a criar dificuldades e impedimentos, começam os questionamentos, os conflitos, as discussões, as denúncias, etc. Não queremos isso. Queremos apenas implementar soluções que beneficiem toda a coletividade, reduzam as desigualdades e abram mais uma porta para o desenvolvimento do Brasil.
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